Vivemos numa era em que a criação parece clamar por socorro. A Escritura aponta que, desde a Queda, o pecado trouxe uma ruptura profunda entre Deus, o homem e a própria natureza: a maldição entrou no mundo e as consequências não se limitaram ao espírito humano, estendendo-se à carne, ao solo, ao ar e às águas. O mandato de cuidar e dominar a Terra (Gênesis 1:28) foi deturpado: em vez de mordomia amorosa, surgiram exploração, negligência e ambição desenfreada — fatores que fragilizaram nossa condição física e moral.
Autoras e autores cristãos, como Ellen G. White, enfatizaram que a queda enfraqueceu a natureza humana.
“A transgressão trouxe consigo debilidade física, mental e moral. A morte passou a toda a humanidade. A obra de degeneração, em consequência do pecado, prossegue através das gerações.” (A Ciência do Bom Viver, p. 451).
Desde a saída do Éden o mundo está sob influências corrosivas: doenças, pragas e agentes que hoje nos atingem com maior intensidade por causa da má conservação do ambiente e do abuso dos recursos. Vírus mortais, contaminação química e infecções bacterianas, muitas vezes alimentadas por práticas industriais e agrícolas irresponsáveis, exponenciam corpos já desgastados; ao mesmo tempo, desequilíbrios ecológicos facilitam a emergência de doenças novas e calamitosas. Nada disso é isolado — é sintoma de um sistema que geme e precisa de restauração.
A própria criação participa desse gemido. Como afirma o apóstolo, a criação geme e sofre as dores do mundo decaído; há sinais visíveis: espécies desaparecendo, mortandade em massa de animais nos mares e florestas, pragas que atacam biomas inteiros. Esses fenômenos não são apenas notícias alarmantes — são lembretes de que o mundo natural foi atingido pelo mesmo mal que atingiu o homem. A Terra, cansada, pede alívio e cura (Romanos 8:22).
As consequências sociais e morais acompanham o colapso ambiental. Crises prolongadas destroem famílias, aumentam a pobreza e intensificam conflitos; a consciência humana se embota diante do sofrimento alheio. Para muitos, o mundo ainda parece atrativo e compensador — prazeres, viagens, conforto — que, por um momento, disfarçam a angústia. Mas esses bens terrenos logo se mostram insuficientes diante da lembrança dos horrores que persistem em muitos cantos: crianças morrendo em zonas de conflito, populações inteiras à mercê da fome e da violência, pessoas confinadas em condições desumanas. A cena global revela um quadro quase caótico, onde a injustiça e o luto são companhias constantes.
Diante desse cenário, a esperança cristã — a promessa da segunda vinda de Jesus — assume um papel central. Mais do que uma expectativa abstrata, a volta de Cristo representa a promessa de restauração completa: “um novo céu e uma nova terra” onde dor, morte e sofrimento serão vencidos (Apocalipse 21:1-5). Para o crente, essa esperança não é escapismo frouxo nem resignação apática; é um farol que ilumina a ação presente, chamando à compaixão, ao serviço e à mordomia responsável enquanto aguardamos a consumação das promessas divinas.
Reconhecer a urgência do tempo não significa renunciar aos bens deste mundo, mas reinterpretá-los à luz da eternidade. Os prazeres temporários perdem seu brilho quando confrontados com a realidade do sofrimento humano e da devastação ambiental. Por isso, o chamado é duplo: praticar a justiça, amar o próximo, preservar a criação — e, simultaneamente, manter os olhos voltados para a esperança vindoura que Deus prometeu. Essa esperança nos dá propósito e coragem para enfrentar a dor do presente sem sucumbir ao desespero.
Se nosso planeta parece estar com “prazo vencido”, essa é também uma convocação à responsabilidade e à fé. A história humana não termina na decadência; ela tem um desfecho prometido por Deus, que inclui renovação e restauração. Até lá, somos chamados a ser cooperadores de uma cura que já começa na prática do amor: cuidar dos vulneráveis, proteger a criação e proclamar a mensagem de redenção que só Cristo pode oferecer. Assim, mesmo em meio ao gemido do mundo, a promessa de um novo céu e uma nova Terra permanece — não como uma fuga, mas como a esperança que orienta cada ação hoje.
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