Desde os primórdios da história humana, a religiosidade tem sido uma expressão marcante e universal da experiência humana. As mais antigas civilizações conhecidas — egípcios, sumérios, hindus, hebreus, gregos e romanos — manifestaram uma profunda crença em forças superiores, divindades e num propósito transcendente para a existência. Em praticamente todas as culturas antigas, a ideia de um Criador, deuses ou forças espirituais era algo natural, evidente e intrínseco ao entendimento do mundo. O ateísmo, por sua vez, era uma ideia rara, muitas vezes considerada uma aberração do pensamento ou uma dissidência filosófica isolada, como em alguns círculos do epicurismo na Grécia Antiga, mas sem expressão social significativa.
Foi apenas a partir do Iluminismo, nos séculos XVII e XVIII, e posteriormente com a Revolução Industrial, que o ser humano passou a vislumbrar a possibilidade de se redescobrir como espécie autônoma, capaz de superar suas limitações sem recorrer ao transcendente. A fé na razão e no progresso científico parecia prometer uma redenção secular, substituindo Deus pela ciência como fonte última de salvação e verdade. Nesse contexto, o ateísmo floresceu como postura intelectual e filosófica. O evolucionismo de Darwin, lançado com A Origem das Espécies em 1859, foi prontamente adotado por muitos como uma explicação naturalista e autossuficiente para a origem e diversidade da vida — uma espécie de confirmação científica para o ideal iluminista de emancipação humana.
No entanto, os séculos seguintes ofereceram provas contundentes de que a ciência, embora poderosa, é insuficiente para responder às questões mais fundamentais da existência. As duas grandes guerras mundiais, as crises econômicas, os genocídios e a crescente desumanização nas sociedades modernas revelaram que o avanço tecnológico não foi acompanhado de um progresso moral correspondente. A ilusão de autossuficiência humana começou a ruir. Como disse C.S. Lewis, “a tragédia do homem moderno não é que ele saiba demais, mas que ele saiba muito pouco sobre as coisas mais importantes.”
Mesmo no campo científico, diversas descobertas desafiaram a explicação materialista da existência. Muito antes de Darwin, o naturalista Jean-Baptiste Lamarck já intuía que a vida possuía uma direção e um princípio organizador. Louis Pasteur, por sua vez, demoliu a ideia da geração espontânea com seus experimentos sobre a abiogênese. Ele afirmou:
“Jamais a matéria inanimada deu origem à vida.”
Essa declaração, feita com base empírica, foi um duro golpe na ideia de que a vida poderia surgir do acaso.
No século XX, as descobertas em genética e biologia molecular elevaram ainda mais o nível de complexidade do problema da origem da vida. O DNA, uma molécula que armazena vastas quantidades de informação com precisão impressionante, levou muitos cientistas a reavaliar as explicações naturalistas. Francis Crick, prêmio Nobel e um dos descobridores da estrutura do DNA, confessou:
“Um homem honesto, armado com todo o conhecimento que temos hoje, só poderia afirmar que, de algum modo, a origem da vida parece um milagre, tantas são as condições que teriam de ser satisfeitas para que ela surgisse.” (Life Itself: Its Origin and Nature, 1981)
O físico britânico Paul Davies escreveu:
“A impressão de projeto é avassaladora.”
E ele não estava sozinho. Fred Hoyle, astrofísico renomado, comparou a possibilidade de a vida ter surgido por acaso à probabilidade de um tornado passar por um ferro-velho e montar um Boeing 747.
O argumento não é apenas teológico, mas epistemológico e filosófico: a ordem, a informação e a fineza das condições do universo sugerem um planejamento. A matemática e a física, ao descreverem leis tão elegantes, evocam não o caos, mas a mente — e muitos cientistas honestos têm reconhecido isso. John Lennox, matemático de Oxford, resume:
“O universo não apenas está ajustado para a vida; ele parece esperar pela vida.”
A fé, portanto, não é incompatível com a razão, tampouco é um refúgio da ignorância. Pelo contrário, como disse o geneticista Francis Collins, ex-diretor do Projeto Genoma Humano:
“A ciência não pode responder às perguntas mais profundas: Por que estamos aqui? O que é o bem e o mal? Existe vida após a morte? Essas são perguntas que a ciência não foi feita para responder — e, no entanto, são as mais importantes.” (The Language of God, 2006)
Assim, a ideia de Deus permanece não apenas viável, mas necessária diante das evidências. A história humana nos mostrou a falência de projetos autossuficientes. A ciência, longe de eliminar Deus, revela a complexidade e a beleza de um universo que parece ter sido pensado, desenhado — criado. O Criador não é uma hipótese superada, mas uma presença que a própria razão, quando honesta, ainda reconhece com reverência.