O moderno movimento pentecostal, que tem sua característica maior no "falar em línguas estranhas", embora seja considerado proveniente da renovação do zelo espiritual, levanta sérias dúvidas quanto à sua legitimidade bíblica devido à sua natureza eclética e frequentemente doutrinariamente instável. Essa suspeita se intensifica à luz do ensino neotestamentário sobre a unidade doutrinária desejada por Cristo e preservada pelos apóstolos.
Em João 17:21, Jesus ora ao Pai: “Para que todos sejam um, como tu, ó Pai, o és em mim e eu em ti; que também eles sejam um em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste.” Essa unidade não é meramente sentimental ou organizacional — é uma comunhão fundamentada na verdade, como Ele mesmo afirma no versículo 17: “Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade.” O clamor por unidade, portanto, está inseparavelmente ligado à doutrina bíblica.
O apóstolo Paulo retoma esse ideal em Efésios 4:3-6, ao exortar a igreja a guardar “a unidade do Espírito pelo vínculo da paz: há um só corpo e um só Espírito, como também fostes chamados em uma só esperança... um só Senhor, uma só fé, um só batismo, um só Deus e Pai de todos.” A unidade da fé implica uma doutrina comum, não apenas uma experiência comum. No entanto, o pentecostalismo moderno é caracterizado por uma diversidade doutrinária extrema, onde se toleram (e às vezes se promovem) ensinamentos contraditórios — desde heresias da prosperidade até manifestações espirituais questionáveis — sob a justificativa de liberdade no Espírito.
Em 2 Timóteo 4:3-4, Paulo já alertava sobre esse tipo de instabilidade: “Pois virá o tempo em que não suportarão a sã doutrina; pelo contrário, cercar-se-ão de mestres segundo as suas próprias cobiças, como que sentindo coceira nos ouvidos; e se recusarão a dar ouvidos à verdade, entregando-se às fábulas.” É precisamente isso que vemos em parte significativa do movimento pentecostal contemporâneo: uma busca por experiências emocionais, revelações subjetivas e “novidades espirituais” em detrimento da centralidade das Escrituras.
1 João 4:1 reforça: “Amados, não creiais a todo espírito, mas provai se os espíritos são de Deus; porque muitos falsos profetas têm saído pelo mundo.” O movimento pentecostal atual, em muitos casos, falha em submeter suas manifestações espirituais a esse teste bíblico. Práticas como “cair no espírito”, “riso santo”, revelações não testadas, e visões pessoais assumidas como palavras de Deus, se popularizam em cultos que pouco ou nada expõem o texto bíblico de forma clara e exegética.
Na realidade contemporânea, vemos a proliferação de “apóstolos”, “profetas” e “ministérios de sinais e maravilhas” que operam de forma autônoma, sem prestação de contas à tradição apostólica neotestamentária. Muitos desses líderes têm plataformas imensas em redes sociais, mas carecem de qualquer base doutrinária sólida. Igrejas se multiplicam rapidamente, mas com pouca catequese e formação teológica. A unidade doutrinária dá lugar a uma espiritualidade de consumo — onde o critério de verdade é o impacto emocional da experiência, e não a fidelidade à Escritura.
Portanto, a suspeita sobre a legitimidade do movimento pentecostal moderno não é infundada. Não por causa da crença no Espírito Santo, mas pela sua tendência a relativizar a verdade bíblica, promover desordem e permitir contradições teológicas dentro do mesmo corpo, em violação direta ao ensino dos apóstolos e de Cristo. Se o Espírito Santo é o autor da Escritura (2 Pedro 1:21), jamais operará em contradição com ela.
A aplicação prática para a igreja de hoje é clara: toda manifestação espiritual deve ser submetida ao crivo da Palavra de Deus, e a verdadeira unidade da fé só pode florescer onde há clareza, fidelidade e submissão à doutrina apostólica. Experiência sem verdade gera ilusão. A forma mais segura de discernir o mover do Espírito é verificar se ele exalta Cristo, promove santidade e alinha-se com a Escritura — como Paulo ensina em 1 Coríntios 14:33: “Porque Deus não é Deus de confusão, senão de paz, como em todas as igrejas dos santos.”
Ellen White advertiu sobre esse tipo de distorção espiritual quando escreveu:
“Falsas manifestações do Espírito Santo introduzir-se-ão, e os que se desviam da norma da verdade serão enganados. Satanás operará maravilhas diante de nós. Falsos cristos e falsos profetas surgirão, e mostrarão sinais e prodígios para enganar, se possível, os escolhidos.”
— Mensagens Escolhidas, vol. 2, p. 51
“O inimigo das almas procurará introduzir aquilo que parecerá uma grande reforma. A religião será exaltada como algo maravilhoso. O povo exultará, dará gritos, e haverá música com instrumentos. Mas esta será uma atuação do espírito contrário ao Espírito de Deus.”
— Mensagens Escolhidas, vol. 2, p. 36
“A Bíblia é o único padrão seguro para provar todos os reclamos de manifestações espirituais. Tudo deve ser julgado por ‘Está escrito’.”
— O Grande Conflito, p. 593
No tempo final da história deste mundo, Satanás usa todos os recursos do engano para desviar os discípulos de Jesus da verdade da Palavra de Deus. Aos fiéis cabe constante vigilância e apego ao que diz a Sagrada Escritura, confrontando todos os aspectos e contextos apresentados na presente época.