Vivemos uma era de multiplicação de ministérios e igrejas independentes. A cada esquina, surgem novos templos e novas “visões”, muitas vezes lideradas por leigos sem formação bíblica, sem uma história e, principalmente, sem uma razão profética ou identidade clara. À primeira vista, isso parece zelo espiritual; no entanto, olhando pela lente da Escritura, pode ser apenas presunção humana — uma tentativa de fazer para Deus algo que Ele não ordenou.
A história do rei Saul em Gilgal (1 Samuel 13:8-14) é uma poderosa advertência. Pressionado pela ameaça inimiga e pela demora de Samuel, Saul decidiu oferecer o sacrifício em lugar do profeta. Seu gesto, embora aparentemente bem-intencionado, revelou falta de fé e desobediência. Samuel o confrontou com palavras duras:
“Procedeste nesciamente; não guardaste o mandamento do Senhor teu Deus... Agora o Senhor teria confirmado para sempre o teu reino; porém agora não subsistirá.” (1 Sm 13:13-14)
O ato de Saul foi uma usurpação espiritual: ele assumiu um papel que Deus não lhe deu. Assim também acontece quando pessoas, movidas por ambição, criam ministérios sem direção divina, transformando o chamado em algo humano.
Deus sempre chamou e capacitou pessoas específicas para liderar Seu povo. Moisés não se autoescolheu, nem Davi, nem os apóstolos. O Novo Testamento enfatiza que os dons e ministérios vêm de Cristo (Efésios 4:11), e que a Igreja deve funcionar com “decência e ordem” (1 Coríntios 14:40).
Formar igrejas sem alicerce bíblico, profético ou identitário sólido não é criatividade santa; é rebelião espiritual disfarçada de zelo.
A história registra que nem toda ruptura foi má. A Reforma Protestante, por exemplo, surgiu de uma necessidade legítima: recuperar a pureza do evangelho. No entanto, muitos movimentos eclesiásticos recentes não nascem de reforma, mas de ego, disputa de poder e vaidade pessoal.
Essa prática se assemelha à atitude de Saul: fazer “o certo” do jeito errado, sem aguardar a orientação de Deus.
Quando igrejas se multiplicam sem propósito espiritual legítimo, surgem sérios problemas:
- 
Fragmentação doutrinária: O cristianismo perde clareza, e muitos crentes ficam confusos sobre o que é verdade. 
- 
Mercantilização da fé: Ministérios viram “marcas”, mais preocupadas com público do que com discipulado. 
- 
Desvio da herança apostólica: O evangelho histórico é substituído por novidades passageiras. 
Essa desordem enfraquece o testemunho cristão e banaliza o sagrado.
Conclusão:
A Igreja é obra do Espírito Santo, não de ideias humanas. Ela foi chamada a preservar “a fé que de uma vez por todas foi entregue aos santos” (Judas 1:3). Criar igrejas sem direção divina é repetir o erro de Saul: agir por conta própria, em vez de obedecer à voz de Deus.
Que cada cristão e líder busque discernimento, humildade e fidelidade. Em um tempo de pluralidade religiosa, nossa maior necessidade não é de novas denominações, mas de uma Igreja que honre o legado de Cristo e dos apóstolos, vivendo em unidade e santidade.

 
 









