"Tu és o meu Senhor; não tenho bem nenhum além de Ti" — Salmo 16:2
Essa breve declaração de Davi carrega uma profundidade espiritual que desafia os alicerces de uma fé superficial. Ela revela um coração que não apenas reconhece Deus, mas que se apega a Ele com total exclusividade, como o único bem verdadeiro. É um amor essencial, despido dos ornamentos da religiosidade formal, livre das distrações de tradições que, embora muitas vezes bem-intencionadas, podem se tornar fardos que sufocam a vida espiritual autêntica.
Hoje, muitos se veem enredados numa prática religiosa repleta de penduricalhos: rituais, costumes, fórmulas, tradições herdadas e repassadas sem reflexão. Isso pode gerar uma fé baseada na aparência, uma espiritualidade de fachada, onde se preserva a forma mas se perde o conteúdo. Davi, ao contrário, aponta para um relacionamento que nasce da essência, não da estrutura. Ele não menciona sacrifícios, templos ou mandamentos cerimoniais. Ele declara: Deus é o seu único bem.
Para que se possa dizer com sinceridade o que Davi disse, é necessário um desprendimento radical: da vaidade, da busca por status, da tentativa de agradar os homens em vez de a Deus. Isso exige uma purificação de consciência, uma transformação interior que nos conduza a buscar aquilo que é do alto, e não o que é da carne. Paulo reforça essa ideia em Gálatas 6:8-9:
“Porque o que semeia na sua carne, da carne ceifará a corrupção; mas o que semeia no Espírito, do Espírito ceifará a vida eterna. E não nos cansemos de fazer o bem, porque a seu tempo ceifaremos, se não houvermos desfalecido.”
O mundo moderno nos bombardeia com distrações, necessidades fabricadas, comparações constantes e uma avalanche de estímulos que anestesiam a alma. Perdidos em trivialidades, muitos têm dificuldade de perceber que a presença de Deus vale mais do que qualquer conquista material ou prestígio social. É preciso romper com essa lógica mundana, ajustando nossa personalidade e prioridades à luz do Espírito. Colocar Deus em primeiro lugar não é apenas um discurso piedoso — é uma disciplina, uma escolha consciente de viver para Ele e por Ele.
Proferir como Davi: "Tu és o meu Senhor; não tenho bem nenhum além de Ti" exige mais do que palavras — exige rendição. Exige que nossa fé saia do campo das convenções religiosas e entre no terreno da sinceridade viva, onde Deus não é um acessório da vida, mas o seu centro absoluto.
Quem chega a esse ponto encontra a verdadeira liberdade: não depende mais das ilusões que o mundo oferece, nem da aprovação de instituições ou tradições humanas. Encontra um tesouro que não pode ser corrompido, um bem que não pode ser roubado, uma presença que satisfaz completamente.
Esse é o chamado: abandonar o superficial, rejeitar a hipocrisia, e buscar a Deus com todo o coração — não como um complemento à vida, mas como a própria vida.

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