No centro da fé cristã, acima de qualquer doutrina, prática ou tradição, está o amor. Não um amor reduzido a sentimento passageiro, mas um compromisso vivo e ativo que reflete a própria natureza de Deus. Como ensina o apóstolo João: “Deus é amor” (1Jo 4:8). Amar, portanto, não é apenas um mandamento; é a expressão mais autêntica da vida de quem vive unido a Cristo.
Na vida cristã, tudo é por amor. Foi por amor que Jesus entregou a Si mesmo na cruz, tomando sobre Si nossos pecados e nos oferecendo vida eterna (João 3:16; I João 3:16). Esse amor é a essência do evangelho e o fundamento de nossa relação com Deus e com as pessoas. Quando amamos, refletimos o próprio caráter de Cristo, que não apenas falou sobre o amor, mas o viveu de forma prática e sacrificial.
O amor também é comunhão. Ele nos tira do isolamento e nos insere numa rede viva de relacionamentos onde cada pessoa tem valor infinito. Na Igreja, esse amor se manifesta em partilha, oração mútua, suporte nos momentos de dificuldade e celebração conjunta das vitórias. É o que torna a comunidade cristã um reflexo, ainda que imperfeito, da eternidade, onde todos estarão plenamente unidos no amor do Pai.
O amor cristão é relacional. Ele nasce da comunhão com Deus, que nos amou primeiro, e se estende naturalmente ao próximo. Na medida em que experimentamos o perdão, a graça e a bondade de Deus, somos chamados a reproduzir esses mesmos gestos nas relações humanas: perdoar, acolher, servir, ouvir e cuidar. Amar a Deus implica amar as pessoas que Ele criou, pois não há separação possível entre devoção e compaixão.
Ao pregarmos e testemunharmos, nossa motivação também deve ser o amor. Paulo nos lembra que até as ações mais nobres e eloquentes, se não forem movidas por amor, não têm valor diante de Deus (I Coríntios 13:3). Sem amor, o que fazemos pode se tornar apenas exibicionismo ou, pior, uma atitude interesseira. Mas quando é o amor que nos impulsiona, até os gestos mais simples ganham um peso eterno.
O amor molda nosso comportamento ético. Ele nos leva a agir com tolerância e moderação, a não retribuir o mal com o mal, mas a vencer o mal com o bem. Ele é como um tempero que dá sabor à vida, ou como um perfume que contagia e se espalha (II Coríntios 2:15-16). É o que nos faz diferentes, pois revela que estamos sendo transformados à semelhança de Cristo.
Viver o amor como essência da vida cristã é mais do que cumprir um ideal moral; é participar da própria vida de Deus. É permitir que o Espírito Santo molde nosso caráter, para que cada palavra, atitude e escolha se tornem canais da presença divina no mundo. Assim, a fé se torna visível, não apenas professada com os lábios, mas encarnada no modo como tratamos uns aos outros.
O amor é a expressão maior de maturidade, equilíbrio e clareza espiritual. É o que melhor nos distingue como seres humanos criados à imagem de Deus — mais até do que nossa capacidade de raciocinar ou criar. Ainda que alguns animais expressem instintivamente algo que pareça amor, somente o ser humano, movido pelo Espírito de Deus, pode amar de maneira consciente, sacrificial e plena.
Assim, viver o cristianismo é, em essência, viver o amor: o amor que recebemos de Cristo, que repartimos com os irmãos e que testemunhamos ao mundo como a mais alta prova de que Ele vive em nós.
Em última análise, o amor é o fio que costura todas as virtudes cristãs. É ele que dá sentido à oração, à obediência e à missão. Sem amor, a religião se torna vazia; com amor, cada ato simples se transforma em adoração. Quem vive nesse amor já experimenta, aqui e agora, um vislumbre do Reino de Deus.

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