Há quem viva o Natal como uma data marcada no calendário, repetida ano após ano, cercada de luzes, canções, filas nas lojas e expectativas sociais. Mas, se tudo isso for apenas um ciclo que se repete, então o Natal corre o risco de se tornar… apenas mais um Natal. A vinda Dele ao mundo, envolto em simplicidade e graça, foi muito mais que estabelecer uma data festiva ou marcante no calendário. Sua intenção era renovar as almas, curar os corações, revelar o Pai.
O sentido do Natal, em sua essência, não é cultural, não é folclórico nem tampouco uma celebração puramente emocional. O Natal é uma irrupção divina na história humana. O nascimento de Jesus é o acontecimento que transforma o mundo porque transforma pessoas, por dentro, no íntimo, onde o comércio não alcança, onde enfeites não iluminam, mas onde Deus escolheu habitar.
Por isso, o Natal comercial, na verdade, não faz sentido para quem busca viver o Cristo real. Não são os presentes que definem a festa, mas a Presença. Não é a troca de embalagens que cura feridas, mas a vivência do amor, da caridade, do espírito fraterno que se torna visível naqueles que se deixam moldar por Aquele que nasceu em Belém.
E, ainda assim, há um detalhe muitas vezes esquecido: amar o próximo como a nós mesmos pressupõe que saibamos nos acolher. Não uma autoestima baseada em vaidade ou mérito, mas um reconhecimento profundo: somos filhos de Deus, envolvidos por um amor que antecede nossa existência e sustenta nossa jornada.
Quando essa certeza repousa no coração, o amor ao próximo deixa de ser um esforço e passa a ser um transbordar. É compartilhar aquilo que primeiro nos impactou, que nos curou, que ressignificou nossa vida.
O Natal, então, não é apenas a comemoração da chegada de Cristo na história, mas a celebração de Sua chegada à nossa própria história pessoal. É permitir que Ele nasça novamente em nosso interior, iluminando áreas que ainda vivem em sombras, aquecendo afetos resfriados, despertando esperança onde parecia haver apenas rotina.
Somente assim, quando Cristo não é apenas lembrado, mas presente; não apenas citado, mas acolhido; não apenas celebrado, mas vivido — somente assim o Natal cumpre seu propósito eterno. E dessa transformação interior surge a possibilidade de um mundo melhor, de relações mais humanas, de uma vida verdadeiramente abundante, justa e digna, conforme a vontade do Pai.
Que este Natal não seja mais um.
Que seja o Natal — aquele que renova, que desperta, que transforma.
Aquele em que Cristo nasce, novamente, dentro de nós.

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