Ao aproximar-se mais um fim de ano, chegamos a um momento peculiar de reflexão. Enquanto o mundo ao redor se apressa em celebrações barulhentas e extravagantes, surge no coração do crente uma pergunta mais profunda: o que verdadeiramente constitui realização?
Em um mundo cada vez mais orientado para superficialidades, o que consola não é o acúmulo de bens ou a busca por felicidades instantâneas, mas sim a percepção silenciosa de ter-se aproximado, mesmo que um passo de cada vez, da essência do Evangelho. A realização cristã não se mede pela quantidade, mas pela qualidade espiritual; não pelo que se ostentou, mas pelo que se tornou em Cristo.
O registro que permanece
Para o cristão, o verdadeiro legado não está em memórias digitais ou conquistas terrenas, mas no "registro de sinceridade e fidelidade nos livros dos céus". Cada ato de compaixão discretamente exercido, cada palavra de ânimo oferecida, cada momento de paciência em meio à provação - estas são as marcas que transcendem o tempo. São os traços de Cristo sendo formados em nosso caráter, a "impressão positiva na sociedade" que brota não de estratégias de imagem, mas de uma transformação interior.
O combate diário
A realização anual mais significativa talvez seja justamente a consciência de ter "combatido o bom combate". Não só um combate contra poderes ou coisas, mas contra as próprias limitações, contra a tentação da indiferença, contra a corrente cultural que nos arrasta para longe dos valores do Reino. Cada dia vivido com integridade em um ambiente que premia a esperteza; cada escolha de honestidade quando a desonestidade seria mais vantajosa; cada decisão de perdoar quando o ressentimento seria mais fácil - eis as batalhas invisíveis que constituem a verdadeira guerra espiritual.
A busca que traz esperança
Enquanto o mundo busca esperança em previsões econômicas ou promessas políticas, o cristão encontra consolo em uma certeza que transcende circunstâncias: a volta de Jesus. Essa expectativa não é fuga da realidade, mas a âncora que dá significado a todos os nossos combates diários. Saber que "estamos indo para algum lugar" não apenas no sentido geográfico, mas no aperfeiçoamento do caráter rumo à estatura de Cristo, transforma cada dificuldade em oportunidade de crescimento e cada alegria em antegozo da comunhão eterna.
O ideal que se renova
Ao estabelecer metas para o novo ano, o cristão sábio não se contentará com resoluções superficiais. Seu ideal de vida será continuar a jornada de tornar-se mais parecido com Jesus em um mundo que muitas vezes não compreende essa busca. Manter um blog com mensagens espirituais, sim, mas também viver essas mensagens no silêncio do lar, na pressa do trabalho, na complexidade dos relacionamentos.
Chegamos ao fim deste ano não com a arrogância de quem conquistou tudo, mas com a humilde gratidão de quem lutou, caiu, levantou-se pela graça, e seguiu adiante. A maior realização é poder olhar para trás e perceber, mesmo nas imperfeições do caminho, os traços da mão de Deus nos conduzindo, transformando nosso caráter, usando nossas vidas para propósitos maiores que nós mesmos.
Que ao fecharmos este ciclo, possamos dizer com convicção crescente: "Combati o bom combate, guardei a fé" - não como declaração de perfeição, mas como testemunho de perseverança. E que essa convicção nos impulsione para o novo ano não com expectativas ingênuas de facilidade, mas com a coragem renovada de continuar a jornada, sabendo que Aquele que começou a boa obra em nós há de completá-la.
Aguinaldo C. da Silva

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