A celebração do Natal, tal como é conhecida atualmente, levanta questionamentos legítimos entre cristãos que buscam fidelidade bíblica e histórica. Um dos principais pontos de debate diz respeito à origem pagã da data e à ausência de registros da celebração do nascimento de Cristo nos primeiros séculos do cristianismo.
De fato, não há qualquer evidência histórica de que os cristãos celebrassem o nascimento de Jesus até o século IV. Os primeiros cristãos davam ênfase quase exclusiva à morte e ressurreição de Cristo, consideradas centrais para a salvação. A fixação do dia 25 de dezembro ocorre somente após a cristianização do Império Romano, quando a igreja passou a absorver e reinterpretar datas e costumes já existentes. Essa data coincidia com festivais pagãos amplamente celebrados, como o Dies Natalis Solis Invicti (nascimento do Sol Invencível) e as Saturnálias, o que reforça a crítica de que o Natal teria raízes sincréticas.
Essa compreensão histórica levou, em diferentes momentos, à rejeição formal do Natal por cristãos que buscavam pureza doutrinária. Um exemplo marcante ocorreu nos Estados Unidos durante o período puritano.
-
Em 1647, o Parlamento inglês, dominado por puritanos, proibiu a celebração do Natal, considerando-a antibíblica e pagã.
-
Na colônia da Baía de Massachusetts, a celebração do Natal foi proibida entre 1659 e 1681, com multas aplicadas a quem fosse flagrado comemorando a data. Para os puritanos, o Natal representava superstição religiosa e excessos morais incompatíveis com o cristianismo bíblico.
Essa postura crítica permanece até hoje em diferentes grupos cristãos. Algumas denominações, como as Testemunhas de Jeová, rejeitam o Natal com base em três argumentos principais: a origem pagã da data, a ausência de mandamento bíblico para celebrá-lo e o caráter comercial e idólatra associado à festa.
Contudo, a rejeição da data não encerra o debate. Uma questão relevante se impõe: excetuando-se a problemática da data, haveria alguma forma de cristãos tirarem proveito espiritual dessa celebração?
Ressignificação cristã do Natal
Dentro do protestantismo histórico e, de modo particular, no adventismo, encontra-se uma abordagem equilibrada. Ellen G. White reconheceu os problemas associados ao Natal, mas também ofereceu uma perspectiva pastoral interessante. Em um conhecido texto publicado na Review and Herald em 11 de dezembro de 1879, ela afirmou, em essência, que a árvore de Natal poderia ser utilizada como um símbolo pedagógico, desde que despojada de ostentação e usada para direcionar o pensamento a Deus e à benevolência cristã. Ela sugeriu que presentes poderiam ser oferecidos não como expressão de vaidade ou consumo, mas como atos de generosidade, gratidão e apoio à obra missionária.
Essa abordagem não legitima a origem pagã nem o espírito comercial do Natal, mas propõe uma ressignificação consciente, transformando um costume cultural em uma oportunidade de ensino espiritual.
Conclusão
À luz da história, é inegável que o Natal não tem origem bíblica nem apostólica e que sua institucionalização ocorreu séculos após Cristo, em um contexto de forte influência pagã. Por essa razão, a celebração do Natal é vista como imprópria por muitos cristãos. No entanto, o evento não precisa ser proibitivo ou censurado, mesmo porque não temos o conhecimento de outra data que fosse a verdadeira. Mas pode ser usado não como celebração litúrgica obrigatória, mas como uma oportunidade estratégica de reflexão espiritual, desde que seja completamente desvinculada de seu caráter pagão e comercial.
Assim, o verdadeiro desafio não é simplesmente celebrar ou não celebrar o Natal, mas decidir se Cristo será de fato o centro — não apenas no discurso, mas na prática cristã diária.

Nenhum comentário:
Postar um comentário