sexta-feira, 5 de setembro de 2025

Autenticidade – A questão central do Cristianismo

 



A autenticidade não é um tema periférico da fé cristã. A essência do cristianismo vai muito além das aparências, mas em uma relação verdadeira com Deus. Jesus deixou isso claro ao dialogar com a mulher samaritana: “Importa que os verdadeiros adoradores adorem o Pai em espírito e em verdade” (João 4:23). A adoração verdadeira não é uma performance externa, mas uma expressão sincera de um coração entregue.

Desde o início, as Escrituras nos mostram que Deus vê além das aparências. Quando Adão e Eva tentaram cobrir a vergonha com folhas de figueira, aquilo não mudou a realidade do coração nem a verdade diante de Deus (Gên. 3). Deus os viu em sua essência e providenciou vestes adequadas, simbolizando que só Ele pode cobrir nossa culpa. Esse episódio mostra que Deus não se deixa enganar por aparências — Ele sonda o íntimo do coração.

O profeta denuncia religiões vazias quando diz que o povo honra a Deus com os lábios enquanto o coração está longe (Isaías 29). Jesus advertiu sobre esse perigo quando disse: “Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? E em teu nome não expulsamos demônios? E em teu nome não fizemos muitas maravilhas? Então lhes direi claramente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniquidade” (Mateus 7:22-23). Obras religiosas, sem um coração regenerado, não têm valor diante de Deus.

No mundo contemporâneo essa pergunta sobre autenticidade é urgente. Vemos líderes que usam o ambiente eclesial para promoção política, busca de poder e acúmulo de riquezas — práticas que corroem a confiança e desviam o evangelho da sua simplicidade redentora. Cada cristão é chamado a confrontar, individualmente, sua própria autenticidade espiritual.. Fingir santidade pode até dar frutos humanos imediatos, mas falhará diante do Senhor, que conhece motivações e intenções do coração.

Portanto, a autêntica vida cristã exige exame sério e contínuo: arrependimento onde houver duplicidade; transparência nas motivações; compromisso com a justiça, a humildade e o amor sacrificial; e prática constante da oração e da Palavra para que a fé se enraíze na carne e no espírito. À luz da expectativa da volta de Cristo e da percepção de que o tempo de graça é precioso, a convocação é clara — viver o evangelho sem máscaras, hoje.  O chamado do Evangelho é para um cristianismo real, onde Cristo é entronizado no coração, transformando intenções e ações.

Portanto, ser cristão vai muito além de frequentar igrejas, cumprir ritos ou usar o nome de Jesus em atividades religiosas. Trata-se de entregar-se completamente a Ele, permitindo que Seu Espírito molde nosso caráter. A autenticidade é a marca dos verdadeiros discípulos, e somente esses estarão prontos para encontrar o Senhor em glória.

quinta-feira, 4 de setembro de 2025

O Dom da Imortalidade !

 



Em meio ao desfile militar em Pequim, no dia 3 de setembro de 2025, um microfone aberto surpreendeu o mundo ao capturar um diálogo quase insólito entre Xi Jinping e Vladimir Putin. Enquanto caminhavam lado a lado, os dois líderes foram ouvidos discutindo a possibilidade de prolongar a vida humana através da biotecnologia. O tradutor de Putin comentou que os órgãos humanos poderiam ser transplantados continuamente, “quanto mais você vive, mais jovem se torna, e — até alcançar a imortalidade.” Xi respondeu que há previsões de que, neste século, seres humanos poderão viver até os 150 anos. Saiba mais <aqui>.

Essa conversa informal — mas amplamente divulgada — oferece um pano de fundo curioso para refletirmos sobre a real possibilidade de desfrutarmos da imortalidade segundo a perspectiva bíblica.

A Bíblia e a imortalidade: “Quem tem o Filho, tem a vida”

No Novo Testamento, João afirma de forma clara e profunda que “quem tem o Filho, tem a vida” (1 João 5:11-12). Nesse contexto, a vida não é meramente existência prolongada, mas uma vida verdadeira e plena, concedida por Deus por meio de Jesus Cristo — uma vida que transcende o tempo e as limitações humanas.

Deus é a fonte de toda vida. No Jardim do Éden, a árvore da vida era símbolo da comunhão entre o Criador e a humanidade. Porém, o pecado provocou o rompimento dessa comunhão. A expulsão de Adão e Eva do Éden representou a perda do acesso à árvore da vida, e com isso, a mortalidade entrou no mundo. 

Em Gênesis, após o pecado, Deus expulsa o homem do jardim para evitar que, “alcançando a mão e tomando também da árvore da vida, viva para sempre” (Gênesis 3:22-23). A imagem é poderosa: o acesso à vida eterna foi bloqueado em função do pecado, sinalizando que a verdadeira imortalidade não é uma conquista tecnológica, mas um presente divino.


Considerações:

Enquanto Xi e Putin especulam sobre biotecnologia e transplantes contínuos como caminho para prolongar a vida ou atingir a imortalidade — um desejo compreensível, mas circunscrito à esfera física e científica — a Bíblia aponta para uma imortalidade que brota da fé e da relação com Deus.

A promessa bíblica não é de prolongamento indefinido do corpo, mas de vida eterna na presença de Deus. A morte física é real hoje, consequência do pecado; mas a ressureição é a esperança em Cristo. Quem tem o Filho participa da vida eterna e Ele o ressuscitará no último dia ( João 6:40). 

O recente diálogo de Xi e Putin sobre longevidade e imortalidade é um antigo anelo da  ambição científica que permanece no âmbito humano e finito. A verdadeira imortalidade, conforme ensina o evangelho, não se conquista com transplantes ou avanços tecnológicos — e sim com o Filho, que dá a vida eterna. O dom da imortalidade não reside em órgãos substituídos, mas em um coração transformado pela graça de Cristo, a única fonte de vida verdadeira.

quarta-feira, 3 de setembro de 2025

Cristianismo x Estoicismo => similaridades e diferenças

 

O estoicismo, escola filosófica fundada por Zenão de Cítio no século III a.C., e o cristianismo, fé baseada no ensino e na obra de Jesus Cristo, embora sejam tradições muito diferentes, compartilham alguns princípios éticos e práticos que revelam uma profunda preocupação com a vida interior e o comportamento humano. Ao mesmo tempo, divergem radicalmente em relação ao fundamento da esperança e ao propósito último da existência.

Entre os pontos em comum, destaca-se o chamado ao domínio próprio e à serenidade diante das circunstâncias. O estoicismo ensina que o ser humano deve focar naquilo que pode controlar — seus pensamentos, emoções e atitudes — e aceitar com serenidade o que está fora de seu alcance. Essa perspectiva ressoa na exortação de Jesus em Mateus 6:34: “Não vos inquieteis, pois, pelo dia de amanhã, porque o dia de amanhã cuidará de si mesmo.” Assim como os estoicos buscavam libertar-se da ansiedade cultivando uma mente disciplinada, Jesus convida seus discípulos a não se angustiar com o futuro, confiando no cuidado divino.

Outras semelhanças aparecem, como por exemplo: no exercício do autocontrole. No livro de Tiago, no capítulo 3, há uma exortação que descreve a língua como um pequeno membro, mas capaz de causar grande destruição se não for dominada, uma imagem que ecoa o ideal estoico de autocontrole moral. Para os estoicos, a palavra deveria refletir sabedoria, razão e virtude; para Tiago, ela deve estar sob a submissão ao Espírito de Deus, sendo instrumento de edificação. Ambas as tradições reconhecem que a vida virtuosa requer domínio dos impulsos, paciência e autocontrole.

No entanto, as diferenças são profundas. O estoicismo, apesar de sua sabedoria prática, limita-se ao nível racional e ético, apresentando um ideal de serenidade baseado na razão e na conformidade com a natureza. A esperança do estoico está em viver em harmonia com o cosmos, aceitando seu destino com dignidade. O cristianismo, por outro lado, oferece uma esperança transcendente: um futuro glorioso e uma pátria eterna assegurada pela morte e ressurreição de Jesus Cristo. Essa esperança não é apenas uma resignação racional, mas uma promessa ativa de transformação cósmica: o retorno de Cristo, a restauração de todas as coisas e a vitória final sobre o mal.

Em síntese, tanto o estoicismo quanto o cristianismo convidam o ser humano a viver com equilíbrio emocional, autocontrole e virtude, mas apenas o cristianismo fundamenta esses princípios na relação pessoal com Deus e na expectativa segura de um futuro redentor. Assim, o que no estoicismo é esforço disciplinado, no cristianismo torna-se fruto da fé e da graça, com uma visão de mundo que vai além da razão e encontra plenitude na promessa divina de vida eterna.




terça-feira, 2 de setembro de 2025

Apologista Cristão defende o Criacionismo perante 25 Ateus


 O professor e apologista cristão Tassos Lycurgo, da UFRN, participou de um debate no canal Foco no YouTube, onde enfrentou o pensamento ateísta representado por 25 participantes. Durante a discussão, Lycurgo apresentou uma defesa articulada da Bíblia, do Cristianismo e da existência de Deus como Criador. Neste último aspecto fundamentou sua fala tanto em elementos científicos quanto filosóficos. Entre os argumentos científicos mais impactantes, coloco os que o apologista enfatizou a partir do minuto 42 do vídeo postado abaixo.
  • Limites da explicação científica: A ciência não consegue explicar a origem de tudo sem Deus. O universo não surgiu do nada. A vida não é fruto do acaso. As evidências científicas, longe de dispensarem Deus, apontam para a necessidade de uma Causa Inteligente.

  • Matemática e ordem no universo: A matemática mostra que é impossível um universo tão preciso surgir do acaso, há ordem e a complexidade observadas no cosmos reforçando assim o argumento do ajuste fino, amplamente discutido por filósofos e cientistas que defendem o teísmo.

  • Precisão para a vida na Terra: Para que a vida pudesse existir em nosso planeta, foi necessário um conjunto de 122 características ou fatores ambientais ajustados com extrema precisão — como nível gravitacional, transparência atmosférica, quantidade de oxigênio no ar, entre outros.
    A probabilidade de todas essas condições se alinharem por acaso seria de apenas 1 chance em 10¹³⁸. Esse cálculo supera em muito o limite estabelecido pelo Princípio de Borel, que considera matematicamente impossível qualquer evento com probabilidade inferior a 1 chance em 10⁵⁰. Assim, encontramos uma evidência muito forte de que a existência da vida não pode ser explicada pelo acaso, mas sim pelo desígnio de um Criador inteligente.

Combinando raciocínios matemáticos, científicos e filosóficos, Tassos Lycurgo apresentou uma defesa robusta da fé cristã, contrapondo-se a uma visão puramente materialista da realidade e destacando que a própria racionalidade científica aponta para a existência de Deus.




segunda-feira, 25 de agosto de 2025

Daniel 11 - A malfadada busca pela paz!

 


As Escrituras já antecipavam um cenário de falsas negociações e acordos vãos no tempo do fim. Em Daniel 11:27 lemos que “os dois reis se assentarão à mesma mesa e falarão mentiras”, retratando o espírito enganoso que permeia as tentativas humanas de construir paz sem Deus. Com lisonjas, discursos diplomáticos e promessas de cooperação, os líderes do mundo se reúnem em cúpulas e conferências, mas, por trás das palavras polidas, imperam a ambição, o cálculo estratégico e a busca pelo domínio regional e global.

A história humana confirma esse padrão: não são as cúpulas de líderes que alimentam, por si só, as rivalidades, mas as próprias populações, inflamadas por ódio, preconceito e intolerância, que sustentam e legitimam tais atitudes. O ciclo da desconfiança entre as nações encontra respaldo nos corações endurecidos dos homens, e assim os governantes erguem suas bandeiras apoiados por sociedades dispostas a transformar diferenças em muros intransponíveis.

Neste cenário, campanhas em prol da paz soam como ecos vazios. Enquanto se fala de reconciliação, as decisões seguem guiadas por egoísmo, vaidade e pelo desejo de supremacia. O ser humano dominado pela natureza carnal, após a queda no pecado, sempre será vítima de seu próprio egoísmo e ambição. É exatamente este espírito que inviabiliza qualquer esforço humano de harmonizar o mundo.

Essas campanhas pela paz, que se repetem em fóruns internacionais e tratados efêmeros, esbarram invariavelmente nas barreiras das reais intenções humanas. O apóstolo Paulo advertiu em II Timóteo 3:1-5 que nos últimos dias os homens seriam amantes de si mesmos, orgulhosos, avarentos, mais amigos dos prazeres do que de Deus. Assim, qualquer esforço de reforma social ou política, desvinculado de uma verdadeira transformação interior, se mostra insuficiente e frustrado.

Para que um ambiente de paz verdadeira reine permanentemente no mundo é necessário uma ação que regenere a essência de corações corrompidos. A única esperança de paz genuína repousa na ação redentora e transformadora do Senhor Jesus Cristo, que opera no íntimo do ser humano, gerando reconciliação com Deus e, consequentemente, com o próximo. Assim, a tão sonhada paz não será resultado das estratégias humanas, mas da consumação do Reino de Cristo, que se estabelecerá de forma plena e definitiva na Sua segunda vinda.

A paz verdadeira não nasce de tratados, alianças ou sistemas de governo. Ela só pode brotar da obra regeneradora de Cristo no coração humano. Enquanto os homens disputam poder e prestígio, Jesus oferece um reino de justiça, verdade e reconciliação. Por isso, a tão sonhada paz universal não se concretizará por decretos humanos, mas será estabelecida de modo pleno e irrevogável na gloriosa segunda vinda de Cristo, quando Seu reino triunfará sobre todas as nações.


sexta-feira, 22 de agosto de 2025

A radicalidade do discipulado

 


A radicalidade do discipulado cristão é um tema que levanta questionamentos e exige discernimento espiritual. Quando observamos as palavras de Jesus proferidas a certas pessoas como  o jovem rico e  Nicodemos, vemos que o caminho do Mestre exige um pouco mais que comprometimento formal. Ambos eram religiosos, respeitados, cumpridores da lei e formalmente piedosos. No entanto, Jesus vai além da religiosidade exterior e lhes apresenta um chamado que desnuda o coração. Ao jovem rico, Ele pede: “Ainda te falta uma coisa: vende tudo o que tens, dá-o aos pobres, e terás um tesouro no céu; depois vem e segue-me” (Lucas 18:22). Não era a riqueza em si que era pecado, mas o fato de ocupar o lugar de Deus em sua vida. A Nicodemos, mestre da Lei e profundo conhecedor das Escrituras, declara de forma igualmente radical: “Em verdade, em verdade te digo: quem não nascer de novo não pode ver o reino de Deus” (João 3:3). Em ambos os casos, o que está em jogo não é um comportamento religioso formal, mas uma entrega total, uma transformação interior que recoloca Cristo no centro.

É nesse sentido que o livro de Apocalipse nos fala sobre ser quente e não morno: “Conheço as tuas obras; sei que não és frio nem quente. Melhor seria que fosses frio ou quente! Assim, porque és morno, não és frio nem quente, estou a ponto de vomitar-te da minha boca” (Apocalipse 3:15-16). O morno é aquele que mantém uma aparência de fé, mas não se deixa consumir pelo amor e pela vida de Cristo. Ser quente, no entanto, é viver com paixão e autenticidade a experiência cristã, sem reservas, sem meias medidas. Essa é a verdadeira radicalidade do discipulado: enraizar-se em Cristo a tal ponto que Ele se torne o eixo em torno do qual tudo mais gira.

Entretanto, há um perigo sempre presente: confundir essa radicalidade com o extremismo fanático. O fanatismo não nasce do amor, mas geralmente do orgulho e da rigidez. Enquanto a radicalidade conduz à humildade, à mansidão e ao serviço, o fanatismo gera intolerância, exclusão e até violência. Os fariseus do tempo de Jesus são um exemplo disso: zelosos e rigorosos em suas práticas, mas distantes do espírito da lei, que é amor e misericórdia. Jesus os repreende dizendo: “Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! Pois dais o dízimo da hortelã, do endro e do cominho, mas desprezais os preceitos mais importantes da lei: a justiça, a misericórdia e a fé” (Mateus 23:23).

A diferença fundamental está no fruto que cada postura produz. O discipulado radical, centrado em Cristo, gera compaixão, justiça e paz. Como Paulo ensina, “o fruto do Espírito é amor, alegria, paz, paciência, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão e domínio próprio” (Gálatas 5:22-23). Já o fanatismo, centrado no ego ou em sistemas humanos, resulta em julgamento, imposição e divisão. Em termos simples, a radicalidade evangélica é morrer para si e viver para Cristo (cf. Gálatas 2:20); o fanatismo sufoca Cristo nos outros para impor uma própria causa ou razão.

Assim, ser radical no discipulado não significa viver de forma agressiva ou intolerante, mas deixar-se transformar pelo amor de Cristo em todas as dimensões da vida. É esse amor que aquece a fé e a impede de se tornar morna. É ele que distingue a autenticidade da paixão cristã do extremismo  fanático. A verdadeira radicalidade, portanto, não oprime, mas liberta; não endurece, mas humaniza; não se exalta a si mesma, mas glorifica a Cristo.



Nosso Planeta com prazo vencido!

 



Vivemos numa era em que a criação parece clamar por socorro. A Escritura aponta que, desde a Queda, o pecado trouxe uma ruptura profunda entre Deus, o homem e a própria natureza: a maldição entrou no mundo e as consequências não se limitaram ao espírito humano, estendendo-se à carne, ao solo, ao ar e às águas. O mandato de cuidar e dominar a Terra (Gênesis 1:28) foi deturpado: em vez de mordomia amorosa, surgiram exploração, negligência e ambição desenfreada — fatores que fragilizaram nossa condição física e moral.

Autoras e autores cristãos, como Ellen G. White, enfatizaram que a queda enfraqueceu a natureza humana.

“A transgressão trouxe consigo debilidade física, mental e moral. A morte passou a toda a humanidade. A obra de degeneração, em consequência do pecado, prossegue através das gerações.” (A Ciência do Bom Viver, p. 451).

 Desde a saída do Éden o mundo está sob influências corrosivas: doenças, pragas e agentes que hoje nos atingem com maior intensidade por causa da má conservação do ambiente e do abuso dos recursos. Vírus mortais, contaminação química e infecções bacterianas, muitas vezes alimentadas por práticas industriais e agrícolas irresponsáveis, exponenciam corpos já desgastados; ao mesmo tempo, desequilíbrios ecológicos facilitam a emergência de doenças novas e calamitosas. Nada disso é isolado — é sintoma de um sistema que geme e precisa de restauração.

A própria criação participa desse gemido. Como afirma o apóstolo, a criação geme e sofre as dores do mundo decaído; há sinais visíveis: espécies desaparecendo, mortandade em massa de animais nos mares e florestas, pragas que atacam biomas inteiros. Esses fenômenos não são apenas notícias alarmantes — são lembretes de que o mundo natural foi atingido pelo mesmo mal que atingiu o homem. A Terra, cansada, pede alívio e cura (Romanos 8:22).

As consequências sociais e morais acompanham o colapso ambiental. Crises prolongadas destroem famílias, aumentam a pobreza e intensificam conflitos; a consciência humana se embota diante do sofrimento alheio. Para muitos, o mundo ainda parece atrativo e compensador — prazeres, viagens, conforto — que, por um momento, disfarçam a angústia. Mas esses bens terrenos logo se mostram insuficientes diante da lembrança dos horrores que persistem em muitos cantos: crianças morrendo em zonas de conflito, populações inteiras à mercê da fome e da violência, pessoas confinadas em condições desumanas. A cena global revela um quadro quase caótico, onde a injustiça e o luto são companhias constantes.

Diante desse cenário, a esperança cristã — a promessa da segunda vinda de Jesus — assume um papel central. Mais do que uma expectativa abstrata, a volta de Cristo representa a promessa de restauração completa: “um novo céu e uma nova terra” onde dor, morte e sofrimento serão vencidos (Apocalipse 21:1-5). Para o crente, essa esperança não é escapismo frouxo nem resignação apática; é um farol que ilumina a ação presente, chamando à compaixão, ao serviço e à mordomia responsável enquanto aguardamos a consumação das promessas divinas.

Reconhecer a urgência do tempo não significa renunciar aos bens deste mundo, mas reinterpretá-los à luz da eternidade. Os prazeres temporários perdem seu brilho quando confrontados com a realidade do sofrimento humano e da devastação ambiental. Por isso, o chamado é duplo: praticar a justiça, amar o próximo, preservar a criação — e, simultaneamente, manter os olhos voltados para a esperança vindoura que Deus prometeu. Essa esperança nos dá propósito e coragem para enfrentar a dor do presente sem sucumbir ao desespero.

Se nosso planeta parece estar com “prazo vencido”, essa é também uma convocação à responsabilidade e à fé. A história humana não termina na decadência; ela tem um desfecho prometido por Deus, que inclui renovação e restauração. Até lá, somos chamados a ser cooperadores de uma cura que já começa na prática do amor: cuidar dos vulneráveis, proteger a criação e proclamar a mensagem de redenção que só Cristo pode oferecer. Assim, mesmo em meio ao gemido do mundo, a promessa de um novo céu e uma nova Terra permanece — não como uma fuga, mas como a esperança que orienta cada ação hoje.

quarta-feira, 20 de agosto de 2025

Jesus e Nietzsche: Um Encontro Improvável

 





Nietzsche:
Dizem que és o caminho, a verdade e a vida. Mas eu vejo em ti também a origem de uma moral que encolhe o homem, que o faz curvar-se ao invés de erguer-se. O teu evangelho prega humildade, renúncia, mansidão. Onde fica a grandeza? Onde está a chama do espírito criador que ousa, que afirma a vida em sua plenitude, mesmo no sofrimento?

Jesus:
Falas de grandeza como quem mede o homem pela sua força, pelo poder de afirmar a si mesmo. Mas eu te pergunto: que é o homem sem amor? O que é o espírito que não sabe servir? A vida não é apenas luta, mas também comunhão. Não é apenas conquista, mas também entrega. Quem perde a si mesmo por amor encontra um tesouro que a morte não pode destruir.

Nietzsche:
Amor? Muitas vezes é apenas máscara de fraqueza, o consolo dos que não suportam a dureza da existência. Eu proponho o além-do-homem, aquele que diz “sim” à vida sem precisar de promessas celestes. Aquele que transforma dor em força, caos em criação. A tua cruz, para mim, é símbolo da rendição; o meu martelo, símbolo da superação.

Jesus:
E, no entanto, o teu martelo não quebra o silêncio do coração vazio. O além-do-homem que sonhas ainda sangrará, ainda temerá a solidão, ainda procurará sentido. Eu não ofereço apenas promessa futura, mas presença agora. Dou ao homem paz com Deus e com seu próximo. O fardo que carrego é amor que cura — e quem o toma, encontra descanso para a alma.

Nietzsche:
Mas e a liberdade? O teu rebanho segue a ti como cordeiros. Eu quero homens que pensem por si, que não precisem de pastores. A moral do rebanho é a negação do espírito livre.

Jesus:
Eu não tomo a liberdade; eu a liberto. Muitos vivem como escravos de si mesmos — do orgulho, da violência, da vaidade. Eu mostro outro caminho: o da verdade que não aprisiona, mas ilumina. Não peço servidão, peço confiança. Pois quem ama de verdade não é escravo, mas amigo.

Nietzsche (erguendo o olhar, com certa inquietação):
Tuas palavras não me vencem pela lógica, nem pela coerência dos argumentos. Não posso refutá-las simplesmente — porque o amor não se debate como tese. E é justamente isso que me desconcerta: o que é mais forte que o poder da razão?

Jesus (sereno, mas firme):
O amor não se impõe por força, nem se prova por silogismos. Ele se deixa experimentar. A razão pode iluminar caminhos, mas só o amor pode transformar o coração. É nesse lugar oculto, onde a alma anseia por sentido, que a minha voz permanece.

Narrador:
Nietzsche trazia a chama da razão crítica e a ousadia de um espírito que queria mais da vida. Mas diante do amor — não conceito, mas presença viva — descobriu-se desarmado. Não foi pela lógica que se viu contestado, mas pela possibilidade de uma paz que sua própria filosofia não podia oferecer.

E assim, o embate não terminou em vitória retórica, mas na constatação silenciosa de que a maior excelência não é a força do intelecto, mas o poder suave do amor que toca e redime a alma humana.