O apóstolo Pedro, em sua primeira carta, nos convida com ternura e autoridade: “Lançando sobre ele toda a vossa ansiedade, porque ele tem cuidado de vós” (1 Pedro 5:7). Esta exortação revela uma verdade profunda: o cristão não foi chamado para viver sob o peso esmagador da ansiedade, especialmente aquela que nasce da culpa e do remorso pelos pecados passados. A jornada espiritual, embora marcada por lutas e incertezas, culmina na certeza da graça e no descanso que só Cristo pode proporcionar.
É comum que, no início da caminhada cristã, a percepção do pecado pese fortemente sobre o coração do crente. Foi assim com Martinho Lutero, que se debatia com o sentimento da ira divina e a incerteza da salvação. Durante anos, procurou, em vão, a paz por meio de obras e penitências. Da mesma forma, Ellen White, ainda jovem, foi profundamente afligida pelo senso de sua indignidade diante de Deus.
Lutero assim se expressou sobre sua indignidade ou a consciência de seus pecados diante de Deus:
"No começo, eu estava tão cheio de terror que eu não ousava acreditar que tinha agradado a Deus. [...] Mas quando eu compreendi que a justiça de Deus é aquela pela qual o justo vive pela fé... então me senti renascer e atravessar as portas abertas do paraíso."
— Comentário de Lutero sobre Romanos 1:17, introdução ao seu Prefácio da Epístola aos Romanos (Prefácio à Carta aos Romanos, 1515–1516)
Esse testemunho mostra como Lutero passou de um estado de angústia profunda por causa do pecado para a paz e liberdade ao descobrir a justiça de Cristo pela fé — não por obras.
Ellen White relata em Vida e Ensinos (p. 25) como se sentia esmagada pelo peso de seus pecados, duvidando se algum dia seria aceita por Deus. No entanto, ao compreender a suficiência do sacrifício de Cristo, ela encontrou paz. Em Caminho a Cristo, ela escreve:
"Quando Satanás tenta sobrecarregar a alma com trevas, relembrai-lhe os méritos do Redentor e, confiando em Sua graça, não deis lugar à dúvida, mas à fé. [...] Em Seu nome, proclamai que estais justificados."
— Caminho a Cristo, p. 72
Essa passagem mostra claramente a mensagem de segurança e paz que Ellen White aprendeu ao confiar na justiça de Cristo, mesmo depois de intensas lutas internas com a culpa e o medo.
Ambos, no entanto, ao avançarem em sua experiência com Cristo, descobriram algo transformador: a graça é real e eficaz. A promessa de 1 João 1:9 se cumpriu em suas vidas — “Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados, e nos purificar de toda a injustiça.”
Essa revelação muda tudo. Não precisamos mais viver presos ao passado, alimentando a ansiedade gerada por culpas que Cristo já levou sobre si. Em Romanos 5:1, Paulo declara: “Sendo, pois, justificados pela fé, temos paz com Deus por nosso Senhor Jesus Cristo.” Essa paz é a maior dádiva que podemos experimentar nesta vida. Não é ausência de lutas externas, mas a certeza interior de que, em Cristo, estamos seguros.
Jesus orou ao Pai dizendo: “A vida eterna é esta: que te conheçam a ti só por único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo a quem enviaste” (João 17:3). Conhecer Cristo é experimentar a serenidade que excede todo entendimento. É confiar que, apesar de nossas imperfeições, a justiça dEle nos cobre. Assim, a alma encontra repouso, como Davi expressou poeticamente: “Como criança desmamada se aquieta nos braços de sua mãe, assim é a minha alma para comigo” (Salmos 131:2).
O crente é chamado, portanto, a viver essa confiança. Em vez de se deixar consumir por ansiedades espirituais, deve lançar tudo aos pés do Salvador. Ele cuida de nós. Nossa segurança está, única e exclusivamente, em Jesus. A graça que salvou Lutero e Ellen White continua disponível para cada um de nós. Que possamos viver com essa certeza: a paz com Deus é possível, real e presente — hoje.
Nenhum comentário:
Postar um comentário