A ponta pequena é uma figura referida tanto no livro de Daniel quanto no Apocalipse. Uma pergunta que surge a respeito desta figura simbólica é se esta se trata de um único poder e como interpretar em face dos vários poderes que se opuseram ao povo de Deus no decorrer da história. Abaixo segue uma descrição das principais interpretações hoje aceitas.
1. O que dizem os estudiosos adventistas e historicistas
A tradição adventista do sétimo dia e outros historicistas protestantes veem os dois chifres pequenos de Daniel 7 e 8 como representando dois aspectos distintos de um mesmo poder dominante.
Daniel 7 – A ponta pequena que surge entre os 10 chifres da quarta besta
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Surge do Império Romano (quarto animal).
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Aparece entre os 10 chifres, ou seja, entre os reinos bárbaros que sucederam Roma.
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Representa o papado ou a união Igreja-Estado centrada em Roma.
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Características:
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Fala palavras contra o Altíssimo.
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Persegue os santos.
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Muda tempos e leis (interpretação ligada à mudança da guarda do sábado para o domingo).
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Tem atuação por "um tempo, dois tempos e metade de um tempo" (interpretação: 1260 anos).
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Daniel 8 – A ponta pequena que cresce muito
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Surge do reino dos bodes e carneiros, ou seja, do contexto greco-romano.
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Cresce horizontalmente (conquista territórios) e verticalmente (opõe-se ao “Príncipe do exército”, ou seja, a Cristo).
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Lança a verdade por terra, tira o sacrifício contínuo e profana o santuário.
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Também é interpretado como o papado, mas agora com ênfase em seu papel religioso, especialmente relacionado ao sistema sacerdotal e doutrinário romano que desviou o foco do ministério de Cristo no santuário celestial.
Conclusão historicista:
As duas pontas pequenas representam o mesmo poder geral — o papado romano — mas em fases diferentes:
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Em Daniel 7, o foco está na dimensão política e persecutória.
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Em Daniel 8, na dimensão religiosa e espiritual (profanação da verdade e do santuário).
2. O que dizem estudiosos de outras escolas (preteristas, futuristas, críticos)
a) Preteristas (interpretação passada)
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Veem a ponta pequena de Daniel 8 como Antíoco IV Epifânio, rei selêucida (175–164 a.C.) que profanou o templo em Jerusalém.
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Consideram Daniel 7 uma alusão a reinos já passados. segundo eles, também aponta para o contexto histórico próximo ao autor.
b) Futuristas (interpretação ainda futura)
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Associam a ponta pequena com um anticristo escatológico ainda por vir.
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Em Daniel 7 e 8, eles enxergam dois personagens distintos.
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A ponta pequena de Daniel 8 seria um tipo ou prefiguração do anticristo final.
c) Críticos modernos / liberais
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Consideram Daniel como escrito no período do 2º século a.C., e veem as pontas pequenas como referências a eventos do período helenístico, especialmente Antíoco IV.
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Não admitem cumprimento profético futuro nem aplicação ao papado.
Conclusão:
A abordagem historicista, consagrada por reformadores como Martinho Lutero, John Wycliffe, João Calvino, e confirmada por estudiosos modernos demonstra mais propriedade e embasamento bíblico. A proposta Futurista desaba diante de inúmeras referências apontando para a "ponta pequena" como um poder que se manifestou ao longo da história, afetando as verdades expressas na Bíblia Sagrada, bem como desviando as pessoas da obra de Jesus Cristo no santuário do céu.
Já para aceitar a proposta Preterista teríamos que considerar que todo o livro de Daniel não tenha propósito escatológico, se referindo somente a fatos ocorridos na era do Antigo Testamento. No entanto encontramos repetidamente no livro de Daniel a expressão "tempo do fim", que devemos considerar no sentido escatológico, pois o livro culmina no capítulo 12 mencionando a volta de Jesus e a ressureição (Dan. 12:1-2).
Quanto a alegação de alguns estudiosos, especialmente preteristas, a associarem a ponta pequena a Antíoco IV Epifânio, a visão historicista rejeita com propriedade essa ideia por sua limitação temporal e escopo geográfico. O poder descrito atua de forma muito mais ampla e duradoura. Quanto a ser as menções da "ponta pequena" dos capítulos 7 e 8 um único poder, vemos suas ações, caráter e destino final coincidem de maneira impressionante. Isto leva os estudiosos historicistas a entenderem que são duas representações do mesmo poder profético: o papado romano — primeiro em sua face político-persecutória (Daniel 7) e depois em sua influência religiosa corruptora (Daniel 8).
Ainda que as ações opressoras e perseguidoras de Antioco IV Epifânio tenha uma importante significação na história de Israel, falta uma série de características necessárias para atingir as qualificações da ponta pequena como um poder que afetaria a obra do Senhor Jesus e lançaria a verdade por terra, especialmente considerando a dimensão universal com alcance até os últimos dias da história deste mundo.
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