sexta-feira, 18 de julho de 2025

Para que sejamos livres


A liberdade verdadeira não começa do lado de fora. Ela nasce por dentro, silenciosa e lenta, quando decidimos deixar de ser prisioneiros do que nos feriu. Muitas pessoas carregam cicatrizes abertas por tragédias familiares, traições, injustiças e gestos de crueldade inesperada. Esses traumas, se não tratados, tornam-se correntes invisíveis que limitam nossos passos e moldam nossas relações. A mágoa, a dor e o ressentimento são formas de prisão — e o perdão, embora difícil, é a chave que abre essa cela.

Jesus Cristo, em sua caminhada entre os homens, não apenas falou sobre o perdão, mas o encarnou. Em Lucas 6:27-28, Ele nos exorta: “Amai os vossos inimigos, fazei o bem aos que vos odeiam, bendizei os que vos amaldiçoam e orai pelos que vos caluniam.” Não se trata de romantizar o sofrimento ou fingir que o mal não existiu. Trata-se de interromper o ciclo da dor, para que ela não nos defina nem seja passada adiante.

Perdoar não é esquecer o que aconteceu — é escolher não viver mais sob o domínio da lembrança. É dar um fim ao controle que o passado exerce sobre o presente. Como disse o psicólogo Jordan Peterson, “Você não pode mudar o que aconteceu, mas pode mudar a maneira como isso vive em você.” O perdão é, portanto, um ato de responsabilidade emocional, uma reconstrução interior que nos liberta da narrativa de vítimas e nos reposiciona como agentes de cura.

O psiquiatra Augusto Cury nos lembra que “a mágoa é um cárcere construído pela própria vítima.” Guardar ressentimentos é como beber veneno esperando que o outro morra. Às vezes, o agressor sequer se lembra do que fez, mas quem foi ferido revive a cena todos os dias. Nesse processo, o tempo não cura sozinho — ele apenas acumula camadas. O que cura é o enfrentamento, a escolha consciente de curar.

Libertar-se de um passado conturbado exige coragem: de revisitar a dor sem se deixar consumir por ela, de encarar memórias com honestidade, mas também com compaixão. É possível compreender que nossos pais falharam porque também estavam quebrados. Que irmãos e parentes erraram porque foram, eles mesmos, frutos de ambientes doentes. Perdoar não é justificar o mal, mas recusar-se a ser moldado por ele.

Cristo, na cruz, perdoou aqueles que o estavam matando: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem.” (Lucas 23:34). Se Ele, inocente, pôde perdoar diante do sofrimento mais extremo, então há esperança para nós também. O perdão cristão é uma entrega: a justiça não está em nossas mãos, mas nas de Deus. Perdoar é confiar que Ele sabe lidar com o que não conseguimos carregar.

A liberdade começa no momento em que decidimos não deixar que o passado determine o nosso futuro. Quando soltamos o fardo da mágoa, abrimos espaço para a leveza, para o amor e para a vida em abundância que Jesus prometeu. Viver em paz não é esquecer o que nos feriu, mas permitir que o amor de Deus transforme nossa dor em sabedoria.

Para que sejamos livres, precisamos perdoar. Não porque o outro merece, mas porque nós merecemos viver sem correntes. O perdão é a porta da liberdade. E essa porta se abre de dentro. 


Oração:

Senhor meu Deus,
venho diante de Ti com o coração cansado, ferido pelas dores do passado,
marcado por lembranças que ainda pesam sobre meus ombros.

Tu conheces cada lágrima que derramei em silêncio,
cada palavra que me feriu, cada gesto que me partiu por dentro.
Sabes, Senhor, que há momentos em que o perdão parece impossível —
mas também sei que, com Teu amor, todas as coisas são possíveis.

Jesus, que na cruz oraste por aqueles que Te feriam,
ensina-me a perdoar como Tu perdoaste.
Toca as áreas do meu coração ainda endurecidas pelo ressentimento,
e arranca de mim a raiz da amargura que me impede de viver em liberdade.

Ajuda-me a soltar o peso da mágoa,
a deixar de lado o desejo de vingança,
a confiar em Tua justiça e descansar na Tua paz.
Que eu não mais alimente em mim as dores que me foram causadas,
mas que eu escolha, todos os dias, a cura que vem de Ti.

Senhor, dá-me coragem para encarar o passado sem medo,
sabedoria e resiliência para curar as feridas e maturidade para não revive-las.
E, acima de tudo, dá-me amor —
um amor tão grande que seja capaz de cobrir as ofensas,
como o Teu amor cobriu as minhas falhas.

Liberta-me, Pai, das prisões invisíveis.
Transforma minha dor em compaixão,
minha lembrança em aprendizado,
e meu coração em morada da Tua paz.

Em nome de Jesus, o perdoador dos perdidos,
eu Te peço:
dá-me forças para perdoar,
para que, enfim, eu seja livre.

Amém.


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