A questão “ser cristão liberal ou conservador” tem gerado muitos debates dentro do mundo cristão contemporâneo. A polarização, muitas vezes refletida no campo político e cultural, tem invadido também a espiritualidade e a prática religiosa, dividindo cristãos em campos ideológicos. No entanto, essa dicotomia não deveria existir, pois o modelo de Cristo não se encaixa perfeitamente em nenhuma dessas categorias humanas e limitadas.
Jesus foi integral. Ele criticou os fariseus não por darem o dízimo (um preceito da Lei), mas por negligenciarem a justiça, a misericórdia e a fé (Mateus 23:23). Ele não anulou um mandamento em favor de outro; Ele unificou os princípios espirituais, mostrando que o verdadeiro discípulo não deve viver uma espiritualidade fragmentada. Essa visão integral é o que nos capacita a ser sal da terra e luz do mundo (Mateus 5:13-14), vivendo uma fé que é relevante, coerente e transformadora em todas as esferas da vida.
Os rótulos criados no espectro da vivência da fé são falhos e podem incorrer em erros. O liberalismo, quando aplicado à fé, pode tender ao relativismo moral, onde os valores absolutos são diluídos em nome da inclusão ou da cultura do momento. O conservadorismo, por outro lado, pode cair no erro do legalismo, do moralismo rígido, da exclusão e da perda de compaixão. Ambos os extremos perdem a essência do evangelho, que é graça e verdade (João 1:14).
Muitos cristãos estão sendo moldados pelos discursos ideológicos, seja de direita ou de esquerda, ao invés de desenvolverem uma mente cristã renovada (Romanos 12:2). Não podemos olvidar o fato que muitos aderem ao espírito do século para evitar a impopularidade e o confronto com a cultura atual. Isso pode levar à aceitação de padrões morais mundanos sob o disfarce de “amor” ou “tolerância”.
A verdade é que a ética mundana tem entrado em muitas igrejas, não necessariamente pela sua aparência escandalosa, mas pela distorção sutil da verdade. Quando o amor é pregado sem santidade, ou quando a verdade é defendida sem compaixão, estamos longe do modelo de Jesus.
Ellen White comenta que ter a mente desenvolvida, discernimento e fidelidade à Palavra são fundamentais para resistir às influências mundanas. Sobre a contaminação do mundanismo nas igrejas, ela também alerta:
“O espírito do mundo é penetrante. Penetra em toda a parte e se adapta facilmente às formas religiosas, obscurecendo a linha divisória entre o cristão e o mundano.”
— Testemunhos para a Igreja, vol. 5, p. 131
Portanto, o verdadeiro cristão não é liberal nem conservador, mas fiel ao evangelho de Cristo, que é vivo, atual, radical e amoroso. A missão cristã não é escolher um lado político, mas ser um reflexo fiel de Jesus — cheio de verdade, justiça, graça e compaixão.
Conclusão
O que está em jogo não é escolher entre liberalismo e conservadorismo, mas viver uma fé autêntica, integral e centrada em Cristo. Essa fé:
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Não relativiza valores bíblicos.
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Não abraça o moralismo estéril.
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Vive com amor, sem ceder ao pecado.
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Defende a verdade, sem perder a graça.
O desafio dos nossos dias é viver não conforme o mundo, mas conforme o Reino (Romanos 12:2). Para isso, precisamos de discernimento espiritual, profundidade bíblica e coragem para sermos luz em meio às trevas — não polarizados, mas enraizados em Cristo.

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