domingo, 15 de outubro de 2023

O que significa o atual conflito em Israel no contexto profético?


 




    O recente ataque do grupo terrorista do Hamas contra a nação de Israel tem despertado a  atenção de muitos em relação aos eventos bíblicos relacionados ao tempo do fim. Muito conteúdo tem sido disseminado explorando o fato de forma sensacionalista ou especulativa. Principalmente os evangélicos que seguem a teologia dispensacionalista  alegam um significado especial no referido evento.

    No entanto, quero chamar a atenção para  o fato desta visão não ser amplamente baseada nas  profecias bíblicas, ou seja, não condizente com uma visão coerente ao que está revelado na Sagrada Escritura. O dispensacionalismo tem em John Nelson Darby (1800-1882) seu principal expoente, o qual é considerado o sistematizador deste sistema teológico. No entanto suas raízes  chegam em Francisco Ribera (1537 - 1591), que foi o principal disseminador da escola futurista de interpretação profética. Ribera, um teólogo jesuíta,  viveu no tempo da Reforma Protestante, e em reação ao movimento da Reforma desenvolveu um método de interpretação que contrariava o método de interpretação profética usado pelos reformadores deste período, ou seja,  o método historicista de interpretação profética. Para os principais reformadores o Papa representava a figura do anticristo, simbolizada pela "ponta pequena" de Daniel 7,8 e Apocalipse 13. Para fazer um contraponto ao ensino protestante, Ribera desenvolveu um sistema alternativo de interpretação que jogava o cumprimento profético descritos nos livros de Daniel e Apocalipse para o fim dos tempos e não ao longo da história, como ensinava os reformadores.

    A escola de interpretação profética futurista serviu de arcabouço para o desenvolvimento do dispensacionalismo e outras heresias, como a crença no arrebatamento secreto. Em tempos mais recentes certos estudiosos da Bíblia passaram a ver a data de 1948 (fundação do Estado de Israel), como uma data chave para os eventos finais, sendo os fatos concernentes à moderna nação de Israel considerados como um "relógio profético escatológico".  Esta visão escatológica tem como premissa a ideia de que Israel seria restaurado no tempo do fim, para que se cumprisse a última semana do período das 70 semanas proféticas de Daniel 9. No entanto pelo método historicista de interpretação profética o período das 70 semanas de Daniel 9 terminou no ano 34 d.C, quando Israel  deixou de representar o povo de Deus como nação, passando  a igreja cristã a ocupar esta função (Gál. 3:28).

    Depois de encerrado o período determinado que Israel deveria cumprir seu papel (Dan.9:24), as referências à Israel como povo de Deus devem ser tomadas no contexto da igreja. Jesus  já tinha predito em sua parábola que os trabalhadores da vinha iriam ser destruídos e Deus a daria a outros (Lucas 20:9-18).  Também Paulo disse que já "não são os filhos da carne  que são filhos de Deus, mas os filhos da promessa são contados como descendência", se referindo ao fato de ser a fé e não a condição de ser descendente  de Abrão, o fator que faz Deus considerar como seus filhos. Nesta época o tempo Israel já tinha sido cumprido e o evangelho estava sendo disseminado aos demais povos e nações.

    Portanto é equivocada a interpretação que coloca a restauração de Israel como um evento relevante de dimensão escatológica. O moderno Estado de Israel não é o relógio profético dos dias finais, como afirmam alguns, mas as profecias bíblicas trazem em si a revelação necessária para sabermos em qual tempo estamos vivendo. A Bíblia diz que com relação a nação de Israel, até o fim estava determinado assolações (Daniel 9:26). Isto tem se cumprido à risca no decorrer da história, nas opressões e perseguições que tem sofrido o povo judeu. Mas não há um embasamento bíblico para estabelecer a ideia de que o anticristo invadirá Israel e impedirá os sacrifícios no futuro templo, cumprindo assim o que está escrito em Daniel 9:27. O fato ali referido já foi cumprido no ano 30 d.C, com a morte de Jesus, que determinou a inutilidade dos sacrifícios como  meio de se obter o perdão dos pecados. A partir da morte e ressureição de Jesus os olhos dos crentes devem estar voltados para o santuário celestial apenas, que passou a ser o único palco de intercessão realizado pelo próprio Senhor Jesus como nosso sumo sacerdote (Hebreus 7,8,9).

    Por fim, a crença de que os fatos relacionados à moderna nação de Israel no tempo do fim sejam um relógio profético contradiz a previsão bíblica de que a volta de Jesus Cristo será como a visita do ladrão, ou seja, acompanhada do fator surpresa, apesar de tantos sinais que ele profetizou. Jesus relatou os sinais da proximidade de sua vinda, tais como: guerras, pestes, fome, terremotos; sendo estes como "dores de parto", ou seja, que se acentuam em frequência e intensidade à medida que se aproxima sua volta. No entanto o dia e a hora não estão revelados (Mat. 24:36). Isto indica que estamos vivendo no tempo do fim e devemos estar preparados, sendo desnecessário e incorreto especularmos sobre uma agenda escatológica. Ao verdadeiro cristão cabe o dever de estar preparado, pois não sabe quando será o fim de sua vida e se permanecer vivo até à volta do Senhor Jesus deve aguardá-lo com alegria e exultação, vigiando na Palavra e guardando os Seus mandamentos.  

Aguinaldo C. da Silva


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