sábado, 27 de junho de 2020

A Lei como regra de vida !



       Há diferentes segmentos e igrejas cristãs que desconsideram o real valor e sentido da lei, dizem que a lei deixou de ser válida na era do Novo Tempo ou que foi abolida na cruz. Algumas declarações de Paulo são tomadas isoladas ou fora de contexto para basear esta visão sobre a lei.
No entanto, as declarações de Paulo expõe sua inutilidade para justificação do pecador. Diante da lei não encontramos salvação, mas percepção do pecado. "Por isso nenhuma carne será justificada diante dele pelas obras da lei, porque pela lei vem o conhecimento do pecado." (Rom. 3;20).

       Paulo coloca em vários de seus escritos a verdadeira função da lei, no seu sentido primário a lei é um parâmetro para a vida, um instrumento pautador da conduta, uma regra áurea. " Que diremos pois? É a lei pecado? De modo nenhum. Mas eu não conheci o pecado senão pela lei; porque eu não conheceria a concupiscência, se a lei não dissesse: Não cobiçarás." (Rom. 7:7)

       A Lei tem também o papel de revelar o caráter de Deus, que é amor (I João 4.16). Jesus confirmou o conceito expresso por certo doutor da lei: "Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, com todas as tuas forças e o teu próximo como a ti mesmo." (Lucas 10.27-28). 
     A expressão da Lei é o amor, uma expressão que se realiza quando os seus mandamentos são praticados ou adotados na  vida prática. Não é possível dizer que a manifestação espontânea de amor  dispense a guarda ou observância dos mandamentos individualmente. Mas a manifestação do amor só será legítima se envolver a observância dos mandamentos. O amor ao próximo se concretiza quando os mandamentos da lei (não matar, furtar, adulterar ...) são  individualmente observados.

      Há, em nossa época, a ideia de que Jesus substituiu a lei pelo amor quando disse: "Um novo mandamento voz dou: Que vos ameis uns aos outros; como eu vos amei a vós ..." (João 13.34). Sem querer fazer uma análise exegética completa do texto, em poucas palavras podemos entender que Jesus queria enfatizar uma forma mais intensa de amor, que estava ligada ao fato da morte próxima que Ele sofreia dando a vida pelos pecadores, assim nós também devemos dar a vida pelos irmãos.  Em nenhum lugar dos evangelhos Jesus relativiza, aboli ou diminui o valor da Lei, mas contrariamente a isto Ele diz que não veio abolir a lei e qualquer que alterasse os mandamentos seria considerado o menor no reino dos céus (Mat. 5.17,19).

      Voltando ao apóstolo Paulo, este não declara a abolição da lei na era do Novo Testamento, mas sua validade ainda em seus dias. Ele disse: "E assim a lei é santa, e o mandamento santo, justo e bom... Dou graças a Deus por Jesus Cristo nosso Senhor, assim que eu mesmo com entendimento sirvo à lei de Deus, mas com a carne a lei do pecado" (Rom. 7:12,25).

       A pergunta que se levanta é: Se a lei não salva ou justifica, como foram salvo os fiéis da era do Antigo Testamento?
"Portanto, que diremos do nosso antepassado Abraão? Se de fato Abraão foi justificado pelas obras, ele tem do que se gloriar, mas não diante de Deus. Que diz a Escritura? "Abraão creu em Deus, e isso lhe foi creditado como justiça". Ora, o salário do homem que trabalha não é considerado como favor, mas como dívida. Todavia, àquele que não trabalha, mas confia em Deus que justifica o ímpio, sua fé lhe é creditada como justiça." (Rom. 4.1-5).
 
       Abraão foi justificado pela fé, apesar de ter guardado todos os mandamentos durante a sua vida (Gên. 26.5). Pois a salvação pela fé é a única forma que Deus usou tanto na era do Antigo quanto do Novo testamentos.
      Mas se a lei tinha como objetivo e utilidade pautar a conduta e instruir as pessoas, por que foi concedida em tábuas de pedra quatro séculos depois? O deserto foi para os israelitas uma experiência de reabilitação, após um longo período de escravidão no Egito e esquecimento dos princípios e valores transmitidos aos patriarcas. Deus pretendia formá-los como uma nação com um propósito especial: ser uma luz e uma bênção para as demais nações (Gên. 12,3).

Christopher Wright comenta:

“No Sinai, Deus entrou numa aliança com o povo de Israel (e com o restante das nações em vista) chamando‑o para ser seu representante (sacerdotalmente) e para ser separado (santo). Ele lhe deu um dom da graça – não para que pudessem merecer sua salvação, uma vez que já haviam sido redimidos, mas para moldá‑los como um povo modelo, a fim de fossem uma luz para as nações.” 1

       O propósito de moldar o seu povo conforme a imagem do Senhor Jesus é a intenção de Deus em todas as eras. Para isto a lei foi concedida como parâmetro de conduta ou regra de vida. Disse o salmista que bem aventurado é quem "tem o seu prazer na lei do Senhor, e na sua lei medita de dia e de noite." (Salmos 1:2). 
       Se referindo a Nova Aliança, Paulo afirma citando Jeremias, que o  objetivo de Deus  é escrever os mandamentos no coração de seus filhos. É na  nova aliança a ocasião que se realizará tal intensão divina.
 
"Porque esta é a aliança que depois daqueles dias farei com a casa de Israel, diz o Senhor; Porei as minhas leis no seu entendimento, E em seu coração as escreverei; E eu lhes serei por Deus, E eles me serão por povo." (Hebreus 8:10).

Que nossa vida seja pautada pela lei de Deus e que sua eficácia seja a marca de nosso discipulado - com frutos caracterizados pelo Seu amor!


Aguinaldo C. da Silva


1 WRIGHT, Christopher J. H. A missão do povo de Deus : uma teologia bíblica da missão da igreja / Christopher J. H. Wright ; tradução Waléria Coicev. São Paulo : Vida Nova 2012. p. 51
  

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