No dia 24 de setembro de 787, há exatos 1.238 anos, aconteceu um dos eventos mais marcantes da história do cristianismo institucionalizado: o Segundo Concílio de Niceia, realizado na Igreja de Santa Sofia de Niceia, em Niceia (atual İznik, Turquia). Convocado pela imperatriz Irene, o concílio reuniu bispos para encerrar a primeira fase da chamada controvérsia iconoclasta no Império Bizantino.
Naquela época, havia grande debate sobre o uso e a veneração de imagens. Muitos cristãos, preocupados com a fidelidade à Bíblia, se opunham ao culto de ícones, lembrando a clara proibição do segundo mandamento: “Não farás para ti imagem de escultura, nem semelhança alguma do que há em cima nos céus, nem embaixo na terra…” (Êxodo 20:4). Porém, o concílio decidiu restabelecer e legitimar a veneração das imagens, especialmente ícones de Cristo, da Virgem Maria e dos chamados “santos”.
Na prática, aquele ato abriu oficialmente a porta para a idolatria dentro da cristandade. O que era antes rejeitado por ser contrário à Palavra de Deus passou a ser promovido pela tradição eclesiástica. Com o tempo, o apego a imagens, relíquias e símbolos substituiu, em muitos corações, a simplicidade da fé em Cristo e a centralidade da Escritura.
Esse episódio nos lembra de que tradições humanas não podem se sobrepor à vontade de Deus. Sempre que a igreja se afasta da Bíblia para seguir convenções humanas, corre o risco de cair em enganos espirituais.
Hoje, como no passado, somos chamados a adorar o Senhor “em espírito e em verdade” (João 4:24), reconhecendo que só Ele é digno de culto. O desafio permanece: manter os olhos fixos em Jesus, e não em objetos feitos por mãos humanas.
O Segundo Concílio de Niceia (787) e suas repercussões
Tradição Cristã | Visão sobre o Concílio | Prática relacionada a imagens |
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Católicos | Reconhecem o concílio como ecumênico e válido. Defendem a distinção entre adoração (latria – só a Deus) e veneração (dulia – dada aos santos e às imagens como símbolos). | Uso abundante de imagens, estátuas e relíquias em igrejas. Imagens são vistas como “janelas para o transcendente”. |
Ortodoxos | Também reconhecem o concílio como ecumênico. A teologia dos ícones é central na fé ortodoxa. O ícone é considerado uma manifestação visível da encarnação de Cristo. | Ícones são essenciais no culto, sempre em estilo artístico próprio. São beijados, incensados e usados na oração. Celebram a Festa da Ortodoxia em memória da vitória sobre o iconoclasmo. |
Protestantes (século 16 em diante) | Rejeitam o concílio, considerando que ele abriu espaço para a idolatria. Reformadores como Lutero (mais moderado) e Calvino (mais radical) criticaram a veneração de imagens. | Igrejas protestantes históricas retiraram imagens dos templos. A ênfase ficou na pregação da Palavra. Alguns ramos (como luteranos e anglicanos) mantêm cruzes ou vitrais, mas sem veneração. Igrejas reformadas e evangélicas geralmente rejeitam totalmente o uso de imagens. |
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