Ser discípulo de Cristo exige fé, paciência e discernimento. Caminhamos recebendo toda sorte de informações e estímulos que nos deixam expostos a ciladas e distrações. Se manter no caminho é o desafio para o cristão atual.
“Muitos protestantes supõem que a religião católica não é atrativa, e que seu culto é um conjunto de cerimônias, fastidioso e sem sentido. Enganam-se, porém. Embora o romanismo se baseie no engano, não é impostura grosseira e desprovida de arte. O culto da Igreja Romana é um cerimonial assaz impressionante. O brilho de sua ostentação e a solenidade dos ritos fascinam os sentidos do povo, fazendo silenciar a voz da razão e da consciência. Os olhos ficam encantados. Igrejas magnificentes, imponentes procissões, altares de ouro, relicários com pedras preciosas, quadros finos e artísticas esculturas apelam para o amor do belo. O ouvido também é cativado. A música é excelente. As belas e graves notas do órgão, misturando-se à melodia de muitas vozes a ressoarem pelas elevadas abóbadas e naves ornamentadas de colunas, das grandiosas catedrais, não podem deixar de impressionar a mente com profundo respeito e reverência.
“Este esplendor, pompa e cerimônias exteriores, que apenas zombam dos anelos da alma ferida pelo pecado, são evidência da corrupção interna. A religião de Cristo não necessita de semelhantes atrativos para se fazer recomendável. À luz que promana da cruz, o verdadeiro cristianismo apresenta-se tão puro e adorável que decorações externas nenhumas poderão encarecer-lhe o verdadeiro valor. É a beleza da santidade, o espírito manso e quieto, que é precioso diante de Deus.
“O fulgor do estilo não é necessariamente índice de pensamento puro, elevado. Altas concepções de arte, delicado apuro de gosto, existem amiúde em espíritos que são terrenos e sensuais. São frequentemente empregados por Satanás a fim de levar homens a esquecer-se das necessidades da alma, a perder de vista o futuro e a vida imortal, a desviar-se do infinito Auxiliador e a viver para este mundo unicamente.
“Uma religião de exibições externas é atraente ao coração não renovado. A pompa e cerimonial do culto católico têm um sedutor, fascinante poder, pelos quais são enganados muitos, que chegam a considerar a Igreja Romana como a própria porta do Céu. Ninguém, a não ser os que têm os pés firmados nos fundamentos da verdade, e o coração renovado pelo Espírito de Deus, se acha ao abrigo de sua influência. Milhares que não têm um conhecimento experimental de Cristo serão levados a aceitar as formas da piedade sem a sua eficácia. Esta é a religião que precisamente desejam as multidões.”
A recente vitória eleitoral de Donald Trump para a presidência dos EUA surpreendeu os analistas políticos e até mesmo os institutos de pesquisa. Sua vitória foi surpreendente pela larga vantagem em relação a sua concorrente Kamala Harris, apesar de tantos processos e acusações que o cercavam durante a campanha. Seria o fenômeno Trump uma simples reação da sociedade americana em função de problemas sociais e econômicos que aquela nação enfrenta?
Pelo que pesquisei vai muito além de uma reação aos problemas momentâneos. Existe uma construção ideológica que está em progresso já há alguns anos. Esta congrega, entre outras ideologias, a teologia do domínio. A teologia do domínio (ou "Dominion Theology") é uma corrente teológica presente em alguns círculos cristãos conservadores, especialmente entre certos grupos evangélicos, que defendem a ideia de que os cristãos têm a responsabilidade de “dominar” ou exercer autoridade sobre a sociedade e as instituições. A principal passagem bíblica usada é Gênesis 1:29, onde fala sobre "subjugar a terra" e "ter domínio" sobre toda a criação.
Essa teologia se desenvolveu em várias vertentes, sendo algumas delas:
Reconstrucionismo Cristão: Uma das expressões mais radicais da teologia do domínio, defendida por pensadores como R.J. Rushdoony e Gary North. Eles propõem que a sociedade deve ser organizada com base nas leis do Antigo Testamento, promovendo mudanças nas leis civis, econômicas e educacionais de acordo com princípios bíblicos. Em sua forma extrema, o reconstrucionismo busca substituir o sistema legal secular por um sistema baseado na lei bíblica.
Sete Montanhas de Influência: Um movimento mais recente que promove a ideia de que os cristãos devem influenciar as “sete montanhas” da sociedade: governo, educação, economia, mídia, religião, família e entretenimento. Esse movimento tem ganhado espaço entre algumas lideranças evangélicas americanas e defende a ocupação desses setores para "preparar o caminho" para o Reino de Deus.
Nacionalismo Cristão: Relacionado à teologia do domínio, o nacionalismo cristão defende uma visão em que os valores e a identidade cristã devem ser protegidos e promovidos no âmbito nacional, o que implica, para alguns, uma união entre identidade nacional e religiosa.
Embora esta teologia ainda não tenha ganhado adesão de forma ampla entre as denominações cristãs nos Estados Unidos, em virtude daqueles que temem o fim da separação entre Igreja e Estado, ela vem ganhando espaço na liderança evangélica conservadora daquela nação. E aí surge um indicativo do que poderá acontecer no futuro com relação ao governo e a política.
Pode ser considerado, por alguns, que a aproximação do governo com setores religiosos seja algo positivo. Trump promete abrir um escritório de fé junto à Casa branca para atender aos pastores e outros líderes religiosos. Mas lembremos do que foi no passado a união da Igreja com o Estado, com certeza esta ligação trará, em algum grau, riscos ao pluralismo, podendo transformar o governo em um agente de uma determinada doutrina religiosa. As lições do passado indicam que pode resultar em políticas públicas que refletem dogmas religiosos específicos, em vez de serem baseadas em princípios universais de justiça e igualdade.
Ellen White, ainda no século XIX, previu uma amalgamação entre igreja e estado na América do Norte.
"Quando as igrejas protestantes buscarem o apoio do braço secular, então haverá uma formação de imagem à besta; e assim as igrejas protestantes deverão sofrer a indignação e a punição de Deus” (Testemunhos para Ministros e Obreiros Evangélicos, p. 366).
Diferentes analistas tem considerado esta eleição americana como um ponto de inflexão no desenvolvimento político dos EUA que terão consequências e mudanças muito significativas para as demais nações do mundo. Podemos, com certeza, afirmar que estas mudanças tem relação com o cumprimento profético do Apocalipse.
Na época em que vivemos, as pessoas dizem sentir, ao mesmo tempo, sede de Deus e fastio da igreja. No passado, juntava-se a “fome à vontade de comer”. Hoje, porém, essas duas coisas parecem quase o oposto uma da outra. Por isso, são muitos os que optam por viver, cada vez mais, uma religião própria, solitária, individualista, pouco ou nada dogmática e fechada em si mesma; daquelas que dispensam a necessidade de prestar contas de sua vida a alguém. Talvez essa seja uma nova forma de exercício da liberdade, um jeito pós-moderno de garantir a privacidade e o bem-estar neste mundo hipervigiado, invasivo, saturado de informação e, de muitas maneiras, opressor. A religiosidade praticada nas pequenas aldeias e vilas de antigamente não é mais bem-vinda na grande aldeia global que o planeta se tornou. Esse brado por independência ou morte tem, de fato, ajudado a matar a religião que, historicamente, dependia de uma estreita convivência entre os fiéis para funcionar, qualquer que fosse a denominação.
Em contrapartida, nas igrejas de nosso tempo, ao menos nas grandes cidades e nas congregações maiores, os membros tendem a manter uma “distância segura” uns dos outros, apostar em relacionamentos superficiais, caprichar na aparência pessoal, investir em eventos de alto nível, orbitar em torno de figuras de prestígio, superestimar os talentos artísticos de alguns e menosprezar a força dos pequenos atos de amor de todos juntos no cumprimento da missão de Cristo. Essa fórmula traz como resultado o fastio de igreja, ou seja, a sensação, justificada ou não, de que congregar seja algo irrelevante para o cultivo de uma espiritualidade genuína ou, na melhor das hipóteses, algo semelhante a uma sobremesa saborosa, mas que, infelizmente, não alimenta a alma faminta e carente de salvação.
É nesse contexto que encontramos os desigrejados, um grupo de crentes que dispensa a convivência com outros crentes pelo receio de perder ou prejudicar a própria fé no contato com a fé dos demais. Os desigrejados não desejam nem se sentem preparados para se expor a esse risco. Preferem evitar conflitos e conviver pacificamente com todos, ainda que isso ocorra sem a partilha do pão, sem a entrega do tempo, sem o serviço ao necessitado, sem o alinhamento das ideias, sem o exercício diário do perdão ou, talvez, terceirizando tudo isso, para que haja mais comodidade e eficiência afinal. Os desigrejados amam a Deus, mas não a família de Deus. Gostam da cereja do bolo, mas preferem jogar o restante fora sob a alegação de que precisam se manter “em forma”. Sentem que Deus é acolhedor, mas a igreja não; que Deus é amorável, mas a igreja não; que Deus não lhes pede nada, mas que a igreja é exigente demais. Então eles colocam a religião num baú e a deixam lá, guardada. Eles abraçam a espiritualidade, algo que é bem mais amplo que religião, porém bem menos preciso e palpável também. Dizem que ser espiritual e ser religioso são coisas incompatíveis, e optam por ser espirituais, não importando exatamente o significado disso na prática. Cada pessoa terá que decidir por si mesma, argumentam. Afinal, a salvação é individual.
É também nesse contexto que encontramos os ex-igrejeiros, ou seja, aqueles que um dia foram exímios frequentadores de igreja, mas que hoje já não são, embora se mantenham na fé. Trata-se de um grupo novo, porém crescente, quase desconhecido, pouco estudado e absolutamente curioso e interessante. Eles também são crentes que evitam o “excesso de igreja”. E têm razão de sobra para isso! A diferença é que eles a desejam ardentemente e, ao mesmo tempo, a evitam sistematicamente. É contraditório, mas é real. Eles são fruto de uma espécie de “amor bandido”, que atrai e repele ao mesmo tempo; que agrada e decepciona; que encanta e entristece, pois se parece demais com as relações de amor e ódio que muitos de nós já vivemos ou vimos alguém viver, e cuja sorte lamentamos. Os ex-igrejeiros sentem que o modelo de igreja que predomina hoje está longe do ideal, e tal modelo, de modo nenhum satisfaz a sede de sua alma. Em função disso, eles se tornam altamente seletivos e vivem à caça de líderes que inspirem, comunidades que acolham, iniciativas que funcionem e experiências impactantes que os façam reviver a essência do evangelho bíblico. Neles, fome e fastio convivem, como ocorreu com Israel quando, no deserto, rumo a Canaã, o povo recebeu de Deus o maná. Provavelmente estivessem agradecidos por não passar fome no deserto, mas, ao mesmo tempo, se queixaram daquele “pão vil”.
Os desigrejados sentem que não precisam do pão que a igreja oferece. Os ex-igrejeiros, por sua vez, sentem falta do pão que a igreja foi, mas que deixou de ser; então decidem fazer jejum. O primeiro grupo se destaca pela religiosidade intimista, solipsista, anti-institucionalizada. O segundo grupo é fruto da desilusão, do saudosismo e de um idealismo ambíguo, que bebe do passado, mas não consegue assimilar o presente nem construir o futuro. Como esses dois grupos tornarão a encontrar o caminho de volta à igreja? Eis a pergunta que não quer calar. Obviamente, a resposta não é fácil. Mas se conseguissem se reintegrar, os ex-igrejeiros poderiam revolucionar a igreja e ajudar a reavivá-la, uma necessidade bem real em muitos lugares. O desafio deles, porém, é reavivar primeiramente a si mesmos e entender que ainda têm um dever a cumprir, uma visão a compartilhar e um legado a transmitir. E só conseguirão ter sucesso se descobrirem o jeito de fazer isso sem o peso da autoridade que um dia exerceram e que já não conseguirão recuperar, porque os tempos mudaram. Os desigrejados, por sua vez, pouco têm a oferecer à comunidade de fé além de sua ausência, sua crítica e seu desdém. O que encontram na igreja é, em certa medida, um pouco daquilo que eles mesmos oferecem. Se, porém, aprenderem a plantar outro tipo de semente, não é garantia, mas talvez possam colher frutos diferentes.
Finalmente, há um terceiro e último grupo envolvido na problemática: o dos igrejados. É para eles que este artigo foi escrito. Seremos capazes de manter abertas as portas da igreja para os outros dois grupos? Se eles vierem, ou melhor, quando eles vierem, estaremos preparados para recebê-los como irmãos? Ou desejaremos trocar de posição com eles? O que Jesus teria a nos ensinar sobre o assunto se nós, humildemente, O buscássemos com disposição e fervor? Reflita e decida. Agora é com você.