terça-feira, 10 de janeiro de 2023

O Cristão e a Política

 


    Vivemos numa época de polarização política mundo afora.  De um lado está um segmento político que defende o pensamento progressista, ou seja,  a atuação de leis e organizações supranacionais em detrimento as liberdades individuais. Este é visto como oriundo do espectro político de esquerda, que defende uma maior intervenção do Estado na economia e na sociedade. De outro lado está  o segmento político de direita, ou seja, aquele mais voltado aos valores tradicionais, que defende a valorização da soberania e dos costumes de cada nação, bem como os direitos individuais e a  liberdade econômica. 
    Este último segmento político tem sido percebido pela maioria dos cristãos como sendo o  mais viável e condizente com os valores cristãos e portanto digno de apoio.  Há contudo, algumas ponderações a serem feitas com relação a um posicionamento político mais expressivo nos dias atuais  por parte daqueles que aguardam a breve volta de Jesus. 
     Talvez, em algum momento da história, foi importante um engajamento mais efetivo dos cristãos nas causas políticas. Não que hoje  seja proibido aos cristãos participarem do processo político, mas agora no tempo do fim, o foco deve estar na consumação da pregação do evangelho. Sabemos que os fatos se desencadearão conforme o script profético e pouco tempo nos resta neste mundo para lutarmos por vantagens duradouras.
    
    Como cristãos, temos que nos lembrar que o Reino de Deus suplanta  todas as ideologias humanas e todas as organizações políticas. Portanto, ao meu ver, no tempo em que estamos vivendo, nossa exposição no aspecto político não deve alcançar o nível de militância ou de engajamento de forma apaixonada, que tome o nosso melhor tempo e atenção. 
    Se o nosso maior anseio é participarmos do reino do Senhor Jesus, o qual solucionará todas as carências e conflitos humanos, isto deve ter significado e influência em nosso comportamento. Se já não esperamos grandes melhorias no mundo ou na sociedade em que vivemos, pois acreditamos que a solução para os problemas do mundo não esteja no âmbito da política, não faz sentido um  envolvimento participativo intenso. Muitos dão aos segmentos políticos a conotação de um conflito entre o bem e o mal, como se o grande conflito espiritual que se iniciou no céu hoje  se limitasse  ao campo político-partidário. 
    
    As disputas político-partidárias envolvem muito mais que ideologias, envolvem sim interesses pessoais, luta pelo poder, ambições variadas, entre outros interesses. Muitos políticos usam o viés ideológico e o discurso religioso apenas como ferramenta para angariar apoio popular. Mas na prática o exercício do poder posterior não condiz com as posturas proclamadas em palanques e no discurso público.
    Com certeza a política e a administração pública evoluiu positivamente em muitas nações no decorrer da história. Esta evolução basicamente se traduz na consolidação dos direitos individuais decorrentes de um ambiente democrático  e na separação entre Igreja e Estado. Devemos ter um olhar de preocupação com a possibilidade de reaproximação  entre estas duas instituições. 
    Muitos regimes totalitários se utilizam do viés moral e religioso para imporem violações contra as liberdades e direitos fundamentais. Com todos os problemas e abusos que podem ser encontrados num regime político democrático, ainda assim tem qualidade superior a outros regimes políticos encontrados no mundo.  

    Enfim,  o que a Bíblia recomenda e aconselha ao cristão é o respeito e consideração às autoridades constituídas. (Romanos 13:1-5). Ela não aponta ao engajamento e a causa política como um desdobramento do reino de Deus na terra, nem orienta os filhos de Deus à ruptura social, ou a insurgência a certos regimes de governo. 
    Em nossa época, nos momentos finais da história deste mundo, Satanás também usará  a política para desviar o foco dos filhos de Deus. Como ele sabe que pouco tempo lhe resta, qualquer atraso ou baixa disposição na pregação do evangelho é um ganho considerável. Devemos estar atentos às astutas ciladas e distrações do inimigo de Deus (Efésios 6:11-14).
    A escritora inspirada Ellen White, escreveu o seguinte: "Os que são genuinamente cristãos são ramos da Videira verdadeira, e darão o mesmo fruto que ela. Agirão em harmonia, em comunhão cristã. Não usarão distintivos políticos, mas os de Cristo." (Obreiros Evangélicos, pág. 393).
    
    O argumento da sábia escritora considera o contexto do povo de Deus no tempo do fim. Alguém pode dizer que já faz mais de um século que vivemos na expectativa da breve volta de Jesus. Posso dizer, entre outras coisas, que se já faz todo este tempo então estamos no fim mesmo. Para Noé, Deus disse que o fim chegaria depois de 120 anos de pregação. Se, como movimento, já passamos deste período, então agora é hora de pregarmos ainda mais com afinco, fervor e foco. Ao invés de estarmos nos debatendo com questões político-partidárias devemos pensar em como salvar pecadores e assim apressar a segunda vinda do Senhor Jesus.


Aguinaldo C. da Silva
    
    

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