Fora dos textos bíblicos surge Ila (Emma Watson), adotada pela família ao ser encontrada em um acampamento em ruínas quando bebê, com uma lesão que a deixou estéril. Ila se envolve romanticamente com Sem, deixando em Cam a esperança de que, quando chegar a hora, seu pai também permitirá que ele encontre uma esposa. Mas a obsessão de Noé em interpretar a tarefa apontada pelo Criador (suas visões vem em sonhos, também uma maneira esperta em mostrar essa comunicação divina) o coloca como zelador dos inocentes – ou seja, os animais aglomerados e colocados em hibernação na arca –, que seriam os únicos herdeiros da Terra depois de tomada pelas águas. [...]
Para auxiliar na tarefa de erguer a arca, o profeta tem o auxílio dos Guardiões, gigantes de pedra que, na verdade, são anjos caídos, cuja luz foi aprisionada nas entranhas da Terra – tudo porque ousaram ajudar o homem em sua jornada, desviando-se dos desígnios do Criador quando o fruto proibido pôs fim à harmonia no paraíso.
Darren Aronofsky teve cuidado em seu roteiro (escrito com Ari Handel) para ser respeitoso com qualquer crença. Ainda assim, o texto bíblico, apesar de importante e inspirador e até obsessivo para muitos que o seguem literalmente, é apenas mais um livro. Como tal, é passível de adaptação, de adequação narrativa, de receber o input do diretor – que, afinal, é quem tem a visão criativa para materializar uma história. Seja na personalidade do protagonista, seja nos personagens adicionados à trama, ou nas passagens alteradas para a fluidez narrativa, Noé é um trabalho impecável, ainda que de difícil empatia. Em nenhum momento é um filme a ser abraçado, não existe o golpe emocional presente, por exemplo, em Réquiem Para Um Sonho ou O Lutador. Algumas passagens, principalmente as mais dramáticas, que iluminam o principal dilema de Noé em relação à sua família e à sua tarefa, são conduzidas com mão pesada – e perdem seu impacto emocional. Mas são pequenos pecados em um filme que decididamente coloca a cabeça para funcionar e abre espaço para questionamento e para reflexão – tudo embalado no melhor espetáculo que o cinema hollywoodiano pode comprar. Este é seu maior triunfo.
Fonte: Roberto Sadovski Uol
Nota. Nestes últimos tempos vemos uma enxurrada de misticismo e espiritualismo invadindo a mídia, em especial o cinema. Nem mesmo uma história eminentemente bíblica foi respeitada. Isto na realidade é uma estratégia do inimigo das almas para afastar as pessoas de Cristo e das verdades bíblicas.
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