segunda-feira, 24 de fevereiro de 2025

Amor e Serviço: O Caráter do Discipulado


     Após a ressurreição, Jesus apareceu a seus discípulos à beira do mar da Galileia. Ali, após uma refeição compartilhada, ocorreu um dos diálogos mais marcantes das Escrituras. Três vezes, Jesus perguntou a Pedro: "Tu me amas?" (João 21:15-17). E três vezes, ao receber a resposta afirmativa de Pedro, Jesus respondeu com uma ordem: "Apascenta as minhas ovelhas."

    Jesus estava, neste diálogo, conduzindo um processo de restauração na vida de Pedro. Este discípulo o havia negado publicamente por três vezes, agora Jesus lhe dava uma nova chance ao perdoá-lo e indicar sua missão. Sem dúvida, o doloroso processo de conversão de Pedro fê-lo passar  por uma transformação que o capacitava a ser um verdadeiro discípulo e apóstolo do Evangelho.  

    As palavras: "Apascenta as minhas ovelhas", revelam o verdadeiro caráter do discipulado. Amar a Cristo não se limita a um sentimento ou uma confissão verbal, mas se manifesta no cuidado e no serviço ao próximo. Pedro, que antes negara seu Mestre, agora recebia a oportunidade de reafirmar seu amor através do compromisso com o rebanho de Deus. Seu chamado não era apenas para pregar, mas para cuidar, proteger e nutrir espiritualmente aqueles que lhe seriam confiados.

    Ellen White comenta sobre essa passagem, enfatizando que "o amor a Cristo não pode ser ocultado; sua santa influência será revelada em todos aqueles que verdadeiramente o possuem" (O Desejado de Todas as Nações, p. 515). O serviço ao próximo é a maior evidência desse amor. Ela também destaca que "o amor é o princípio que está na base da criação e do governo de Deus e que deve estar na base da vida do cristão" (Caminho a Cristo, p. 59).

    O verdadeiro discípulo não apenas proclama a fé, mas age em conformidade com ela. Assim como Pedro foi chamado a apascentar as ovelhas de Cristo, cada seguidor de Jesus é convocado ao serviço altruísta. O amor genuíno a Deus se expressa no cuidado pelos necessitados, na paciência com os fracos e na dedicação em conduzir almas ao Salvador. O discipulado não é um status, mas uma missão de amor e serviço.

    Que nossa resposta à pergunta de Jesus – "Tu me amas?" – seja um amor demonstrado em atos, em uma vida de entrega e cuidado pelos que nos cercam. Pois, como diz Ellen White: "O verdadeiro caráter cristão se manifesta na vida diária" (A Ciência do Bom Viver, p. 36). Amar a Cristo é viver para servir.

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2025

O que é pior - a hipocrisia ou a incredulidade?

 


    O que é pior, a hipocrisia ou a incredulidade? Esta é uma boa pergunta ao olharmos para o caráter de certos líderes, em especial daqueles que se arrogam como professos cristãos, instrumentos der referência moral ou de legalidade.

    A incredulidade, ou falta de fé, é frequentemente vista como um obstáculo ao relacionamento com Deus. A própria Bíblia aponta a fé como um dos elementos centrais para a salvação (Efésios 2:8). No entanto a Bíblia apresenta a hipocrisia  como mais grave, porque envolve engano intencional: aparentar justiça enquanto o coração está longe de Deus. Além disso, os hipócritas não só enganam a si mesmos, mas também prejudicam os outros, apresentando uma falsa imagem de Deus.

    A Bíblia  enfatiza  a hipocrisia como mais severamente condenada e Jesus a criticou abertamente em várias ocasiões. A incredulidade, embora grave, é frequentemente abordada com compaixão e um convite para a fé. Jesus demonstrou paciência com pessoas incrédulas, como Tomé (João 20:24-29), mas reservou suas palavras mais duras para os hipócritas.

    Sobretudo, muitos que se estribam na boa religiosidade caem no pecado da arrogância, sendo dissimulados, insensíveis, chegando as vezes a serem desumanos. A Bíblia fala em Tiago 4.6: " Deus resiste aos soberbos  mas dá graça aos humildes.

    Dos pecados e faltas humanas a Bíblia assim afirma: " Estas seis coisas o Senhor odeia, e a sétima a sua alma abomina:  Olhos altivos, língua mentirosa, mãos que derramam sangue inocente, o coração que maquina pensamentos perversos, pés que se apressam a correr para o mal." (Provérbios 6:16-18).

    Estes pecados, que aparecem na classificação dos  mais ofensivos a Deus, infelizmente são vistos na prática de professos religiosos. Isto indica que a incoerência e falsidade religiosa é ainda mais negativa que a mera incredulidade. Isto porque ao se declarar como incrédulo o indivíduo pode apenas estar sendo sincero em sua mísera condição. Pior é ter uma capa de piedade, assim como os fariseus do tempo de Jesus, mas no íntimo estarem tramando o assassinato, a violência e a injustiça.

     O mau exemplo de certos cristãos faz com que muitos não tenham interesse pelos ensinamentos do cristianismo, Como foi o caso de Mahatma Ghandi, que disse que  só não se tornaria cristão por causa dos cristãos. 

    Jesus usou os piores adjetivos para classificar alguns líderes religiosos de seu tempo. 

"Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! Pois que sois semelhantes aos sepulcros caiados, que por fora realmente parecem formosos, mas interiormente estão cheios de ossos de mortos e de toda a imundícia." (Mateus 23:27).

    Com certeza hoje Jesus faria o mesmo ao ver certos líderes no tempo atual defendendo pautas morais em palanques políticos, mas na prática agredindo os mais fracos, não tendo qualquer senso ético de respeito e consideração pelas classes e povos oprimidos, Assim como no tempo de Jesus, podem ser moralistas em algumas situações, porém são parciais em outras. Sobretudo pecando contra a justiça e a misericórdia ao focar em seus próprios interesses. 

sábado, 15 de fevereiro de 2025

O Mundo e a Vida Cristã !

 


    Este tema traz à tona uma antiga polêmica entre liberalismo e conservadorismo. Até que ponto o crente pode participar ou desfrutar de certos prazeres que o mundo oferece? Na minha juventude este dilema era mais intenso, ao menos para mim. Há cristãos com posturas mais ou menos restritivas quanto ao assunto. Hoje compreendo que na visão bíblica, há de fato,  incompatibilidades entre "as coisas do mundo" e a vida cristã. Este é um daqueles assuntos que demanda discernimento e equilíbrio, mas no grosso da questão pode-se afirmar categoricamente que há de se ter cuidado e vigilância constantes com as diferentes situações e contextos que encontramos no mundo.

     Em termos gerais a Bíblia apresenta o "mundo" como um sistema de vida que está em oposição aos princípios de Deus, sendo guiado por desejos egoístas, materialismo e a busca por prazeres momentâneos em vez de valores eternos. A Bíblia descreve o "mundo" como um sistema caído, influenciado pelo pecado. Por exemplo, em 1 João 2:15-17, lemos:

"Não ameis o mundo, nem o que no mundo há. Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele. Porque tudo o que há no mundo, a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida, não é do Pai, mas do mundo."

    Aqui, o "mundo" representa tudo o que afasta o ser humano de Deus, como desejos desordenados e a busca de glórias humanas. Podemos dizer também que o mundo é um campo de experimentação de Satanás para desencaminhar da verdade ou conduzir à fontes enganosas de realização pessoal e paz

    A escritora Ellen White assim escreveu:

"Satanás opera constantemente para atrair os homens para o amor ao mundo e para afastá-los de Deus. Ele sabe que, se puder controlar o coração, a mente seguirá." (Caminho a Cristo, p. 44).

"O mundo é um campo de treinamento para o inimigo de Deus. Ele tem atraído muitos através da concupiscência da carne, da concupiscência dos olhos e da soberba da vida." (O Grande Conflito, p. 478).

    A questão mais crítica na relação do cristão com o mundo diz respeito à santidade. Neste aspecto Ellen White comenta:

"Cristo nos chama a uma vida mais elevada, uma vida de abnegação e serviço. Devemos estar constantemente em guarda contra a conformidade com o mundo." (Mensagens Escolhidas, vol. 1, p. 223).

"Nosso caráter deve refletir o caráter de Cristo. Precisamos manter nossos olhos fixos nas coisas do alto, onde Cristo está." (Mensagens aos Jovens, p. 66).

    Segundo a Bíblia a  vida cristã é um chamado para viver em santidade e refletir o caráter de Deus. Em Romanos 12:2, o apóstolo Paulo diz:

"E não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus."

    Isso implica que os cristãos devem resistir à conformidade com padrões que contradizem os princípios de Deus. Neste aspecto se estabelece uma luta entre a natureza carnal e a espiritual. Esta luta e potencializada pelas astutas ciladas do inimigo. Em Efésios 6:12, Paulo escreve:

"Porque não temos que lutar contra a carne e o sangue, mas, sim, contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais."

    O "mundo" é descrito como influenciado por forças espirituais que se opõem a Deus, tornando necessário que o cristão se proteja e permaneça firme. Um dos principais lemas para isto é estabelecer o Reino de Deus como prioridade. Jesus ensina que a verdadeira riqueza e propósito estão em buscar o Reino de Deus e Sua justiça, acima de tudo. Em Mateus 6:33, Ele diz: "Buscai primeiro o Reino de Deus e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas."

    A busca pelo Reino de Deus é incompatível com um estilo de vida que coloca o foco em riquezas materiais ou status terreno.  A Bíblia descreve os cristãos como "peregrinos e forasteiros" neste mundo (1 Pedro 2:11). Isso significa que a vida terrena é temporária, enquanto o destino final é a eternidade com Deus. Por isso, os cristãos são chamados a viver com uma perspectiva eterna, em contraste com o foco temporal e material do mundo.

Conclusão

A vida cristã não implica em desprezar as coisas boas que Deus criou no mundo, mas em rejeitar qualquer sistema, prática ou desejo que desvie do plano de Deus. A incompatibilidade surge porque o cristão é chamado a viver de acordo com valores espirituais, enquanto o mundo, na visão bíblica, tende a exaltar aquilo que é passageiro e muitas vezes contrário à vontade de Deus. Por isso, a Bíblia convida os cristãos a serem luz no mundo (Mateus 5:14), vivendo de forma a apontar para Deus e não para os valores transitórios do mundo.

terça-feira, 11 de fevereiro de 2025

Fumo deteriora o cérebro dos homens

 




Os homens tabagistas têm maior deterioração mental com o passar do tempo do que aqueles que nunca fumaram, segundo um estudo britânico publicado na segunda-feira nos Estados Unidos, que advertiu, no entanto, que a mesma relação causa-efeito não se observou nas mulheres. A investigação sugere que os efeitos do hábito de fumar a longo prazo se manifestam em perda de memória e incapacidade para vincular a experiência passada com as ações do presente, assim como uma queda nas habilidades cognitivas gerais. O estudo, publicado na revista especializada Archives of General Psychiatry, acompanhou através do serviço civil britânico mais de 5.000 homens e 2.100 mulheres com idade média de 56 anos no começo do estudo e foram acompanhados no máximo por 25 anos.

Os cientistas da University College de Londres comprovaram sua condição de fumantes seis vezes nesse período e os submeteram a uma série de provas cognitivas. Eles descobriram que o tabagismo esteve vinculado a uma redução mais rápida na capacidade mental em todos os testes cognitivos entre homens que fumavam em comparação com os homens não fumantes.

“Nossos resultados mostram que a associação entre tabagismo e cognição, sobretudo em idades mais avançadas, parece estar subestimada devido ao risco maior de morte e abandono entre os fumantes”, destacou o estudo, chefiado por Severine Sabia, do University College de Londres.

Os homens que pararam de fumar nos primeiros dez anos após iniciado o estudo estavam ainda em maior risco de deterioração cognitiva, mas a longo prazo os ex-fumantes não mostraram os mesmos níveis de deterioração.

“Este estudo põe em manifesto que fumar é nocivo para o cérebro”, afirmou Marc Gordon, chefe de neurologia do hospital Zucker Hillside em Glen Oaks, Nova York, que não participou do estudo. “Na metade da vida, fumar é um fator de risco modificável, com um efeito mais ou menos equivalente a dez anos de envelhecimento na taxa de deterioração cognitiva”, acrescentou.

As descobertas são chave para explicar o envelhecimento da população mundial, com 36 milhões de casos de demência em todo o planeta, uma cifra que dobrará a cada 20 anos, segundo as projeções, afirmaram os autores do estudo.

O porquê de as mulheres não mostrarem a mesma relação entre tabagismo e envelhecimento mental não ficou claro, embora os pesquisadores tenham sugerido que o menor tamanho da amostra e a maior quantidade de cigarros fumados pelos homens em comparação com as mulheres poderiam ser fatores contribuintes.

Fonte: Folha.com  via  Outraleitura

terça-feira, 4 de fevereiro de 2025

Entenda por que beber álcool pode causar câncer

 


O consumo de álcool é uma prática enraizada e amplamente aceita em muitas culturas ao redor do mundo – inclusive no Brasil. Frequentemente associado a festas, celebrações e até mesmo à convivência cotidiana, beber álcool faz parte do hábito de muitas pessoas. O que pouca gente sabe é que a prática está associada a pelo menos sete tipos de câncer: mama, boca, laringe, garganta, esôfago, fígado e cólon. 

No início de 2025, o Departamento de Saúde e Recursos Humanos dos Estados Unidos publicou o relatório Alcohol and Cancer Risk, em que destaca que o álcool é a terceira causa evitável de câncer, depois do tabaco e da obesidade, contribuindo para cerca de 100 mil casos e 20 mil mortes a cada ano naquele país. Além de citar os sete tipos de câncer diretamente associados ao consumo da bebida, o documento aponta que, globalmente, ao menos 741 mil casos da doença foram relacionados ao álcool em 2020.

“O relatório reforça e atualiza as evidências científicas, voltando a chamar a atenção para a importância do tema. Traz informações a mais sobre risco proporcional ao consumo, mecanismos biológicos e fala sobre a ausência de níveis seguros. O álcool está entre nós e faz parte da nossa cultura há milhares de anos, sempre associado à alegria e à comemoração. O problema é que a maioria das pessoas usa como hábito de vida e ainda não tem noção de quanto ele pode ser nocivo”, comenta a médica Ana Paula Garcia Cardoso, oncologista clínica do Hospital Israelita Albert Einstein. 

Segundo o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), nos EUA, mais da metade dos adultos estadunidenses bebem álcool, 17% bebem compulsivamente e 6% bebem muito. Os números são muito parecidos com os do Brasil, onde 44,6% da população adulta relata ter o hábito de beber; sendo 18,3% de forma abusiva (cinco ou mais doses por semana para homens e quatro ou mais doses por semana para mulheres). Os dados são do Ministério da Saúde com base no Vigitel, sistema de vigilância de fatores de risco e proteção para doenças crônicas não transmissíveis, que monitora anualmente a situação de saúde da população. 

E não é preciso ser alcoólatra para ter o risco de câncer aumentado. “Inclusive, acho que é isso que distancia as pessoas da realidade. Não existe consumo seguro de álcool e não é porque a pessoa faz uso controlado da bebida que ela estará livre do risco de câncer”, frisa a especialista. O perigo se aplicar a todo tipo de álcool: vinho, destilados e até a cerveja.

Mecanismos de ação

Estabelecer a relação causal entre o fator de risco e um resultado na saúde é complexo, mas vários estudos têm demonstrado que há quatro mecanismos biológicos que levam o álcool a aumentar o risco de câncer.  

A primeira explicação é que a substância pode danificar o DNA. Isso porque o álcool se decompõe em acetaldeído, um metabólito que causa câncer ao se ligar ao DNA de modo a danificá-lo. Uma célula pode começar a crescer descontroladamente e criar um tumor possivelmente maligno.  

Nosso sistema imunológico é capaz de nos proteger contra vários danos ao mesmo tempo, como o cigarro, o álcool, a poluição, os ultraprocessados, a obesidade e o sedentarismo. No entanto, chega uma hora que ele pode falhar. “É como se alguém batesse na porta várias vezes, mas seu sistema imunológico estivesse fazendo a vigilância e não o deixasse entrar. Mas algumas células ficam mais suscetíveis e fragilizadas por esses agressores, até que um dia o sistema imunológico não consegue mais se defender e a porta se abre”, ilustra Cardoso.  

Quando a “porta” se abre, tem início um processo neoplásico, que nada mais é do que a multiplicação desordenada de uma célula com mutação. “A chamada carcinogênese funciona desta forma: tem um fator desencadeador, um erro no sistema de defesa e ali ele se prolifera”, explica a oncologista. 

O segundo mecanismo de ação do álcool é que ele gera espécies reativas de oxigênio, que aumentam a inflamação no organismo por meio de um processo chamado estresse oxidativo. O terceiro é que a substância altera os níveis hormonais (especialmente do estrogênio), o que pode expor mulheres ao aumento desse hormônio e, consequentemente, a um risco maior de câncer de mama.  

Por fim, a quarta forma de ação é que alguns órgãos (como fígado, boca e intestino) sofrem efeitos diretos do álcool. Além disso, outros carcinógenos podem se associar ao álcool e facilitar sua absorção pelo corpo. “O efeito cancerígeno do álcool é invisível, mas ele é multifatorial. Ele causa danos e instabilidades no DNA, que tornam a pessoa mais suscetível a outros fatores. Por exemplo: a suscetibilidade causada pelo álcool aumenta o risco que o cigarro já está causando”, pontua Cardoso.

Existe dose segura? 

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), não existe consumo seguro de álcool – qualquer quantidade pode aumentar o risco de câncer. Um fator importante é a quantidade total de álcool consumida consistentemente ao longo do tempo. Segundo o relatório dos EUA, para certos tipos de câncer, como de mama, boca e garganta, as evidências mostram que esse risco pode começar a aumentar em torno de uma ou menos doses por dia. 

Segundo um estudo citado no relatório dos EUA, o risco absoluto de uma mulher desenvolver qualquer câncer relacionado ao álcool ao longo da vida aumenta de 16,5% para aquelas que consomem menos de uma dose de bebida por semana para 19% para as que ingerem uma dose diária; e para 21,8% entre as que consomem duas doses por dia, em média. Isso corresponde a cinco mulheres a mais em cada 100 com potencial de desenvolver a doença. “O álcool é um dano. Quanto maior a quantidade, pior”, avisa a oncologista do Einstein. 

No Brasil, a referência de dose mais utilizada é a divulgada pelo Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (CISA), que considera que uma dose (unidade) padrão de álcool correspondente a 14 g de etanol puro – isso equivale a cerca de 350 ml de cerveja (uma lata), 150 ml de vinho ou 45 ml de destilados (como vodca, cachaça ou uísque). A OMS, no entanto, usa como dose padrão o equivalente a 10 g de álcool e recomenda o máximo de duas doses por dia para homens e uma por dia para mulheres, desde que se abstenham de beber pelo menos duas vezes na semana. 

Desconhecimento sobre os perigos 

Apesar das evidências demonstrando o efeito do consumo de álcool no risco de câncer, o relatório americano ressalta que há uma grande lacuna na compreensão pública dessa associação. Uma pesquisa feita em 2019 concluiu que 45% dos estadunidenses reconhecem o álcool como um fator de risco para câncer. O índice é bem menor do que os 91% que conhecem o risco cancerígeno da radiação e os 89% que sabem da relação com o tabaco, conforme o mesmo trabalho. 

Outra investigação, essa feita com cerca de 1.700 adultos e divulgada em novembro de 2024 pela Annenberg Public Policy Center (APPC), mostra que menos da metade dos americanos (40%) sabe que beber álcool regularmente aumenta o risco de desenvolver câncer mais tarde. Outros 40% não tinham certeza se isso é verdade e 20% relataram crenças imprecisas — de que não teria efeito ou que diminuiria a chance de desenvolver câncer.  

Há evidências de que, em longo prazo, parar de beber ou reduzir o consumo de álcool reduz diretamente a probabilidade de cânceres de boca e esôfago. Segundo o relatório Alcohol and Cancer Risk, mais pesquisas são necessárias para determinar se esse risco também diminui para outros tipos de câncer — ou até se pode chegar ao nível observado em pessoas que não costumam beber. 

Rotulagem das bebidas 

No recente documento norte-americano, uma mudança sugerida é a atualização dos rótulos de bebidas alcoólicas para incluir um alerta sobre o risco aumentado de câncer. Os rótulos de advertência de saúde são abordagens bem estabelecidas e eficazes para aumentar a conscientização e promover mudanças de comportamento. 

Na avaliação de Cardoso, o Brasil enfrenta o mesmo problema de falta de informações sobre os riscos do consumo de álcool, e incluir alertas nos rótulos pode ser um bom caminho, assim como aconteceu com o cigarro. “Todo mundo sabe que fumar pode causar câncer. Tem um aviso no maço de cigarro, mas isso não acontece com as bebidas alcoólicas. Além disso, existe uma negação das próprias pessoas que desejam preservar o hábito, especialmente pelo aspecto social associado ao consumo da bebida”, observa a médica.  

Fonte: Agência Einstein  via MSN