Nossa época é
marcada pela busca do prazer. Por
inúmeras influências, tanto do campo ideológico quanto mercadológico, a
humanidade tem buscado uma realização baseada nas sensações, não se medindo o
custo ou as consequências disto. Este fato é demonstrado pela produção insaciável de artifícios para potencializar os sabores e as sensações. Já
não basta apreciar a fruta no seu sabor natural, é preciso processá-la,
adicionar aditivos, aromas e sabores artificiais, assim comprometendo seu teor
nutricional. Nunca se consumiu tantos estimulantes e narcóticos como na
atualidade. Os vícios alimentares já são um problema de saúde pública.
Esta
tendência invade quase todos os campos da vida. Inúmeras formas de satisfação sensual tem sido manifestadas, numa escalada
desenfreada e insaciável do prazer como um fim em si mesmo. Postura que conduz
para a armadilha dos vícios e das práticas alienantes. É preciso voltarmos ao natural e à vida simples, reaprender a desfrutar dos prazeres em sua singeleza e originalidade. Como afirma a personagem de Screwtape, de
C.S. Lewis: “O prazer é invenção dele
(Deus), não nossa. Ele fez os prazeres: todas as nossas pesquisas até agora não
foram capazes de produzir um único que seja.” 1.
Esta afirmação
leva-nos a considerar o prazer como uma
consequência da vida tal como foi projetada. Produzimos artifícios que conduzem
ao desvio desta realização. O prazer salutar é aquele que não aliena o
indivíduo de uma realização maior, que
envolve a harmonia consigo mesmo e com os demais que o cercam. Que não
compromete a dignidade nem aprisiona a alguma compulsão. Isto é um princípio
básico da boa educação ou esteio para a formação da consciência moral.
Precisamos adotar a postura de olhar para a natureza com uma consciência de
respeito, de serenidade, isto leva-nos a aceitar o ritual da vida sem desvio de propósito, sem artimanhas
maculadoras.
Sofremos
durante muito tempo a influência de visões e conceitos equivocados. O prazer em si não é algo nocivo, como impõe
certos dogmas e conceitos medievais. Porém ainda nos debatemos como sociedade,
por alcançar uma visão ética que nos conduza para uma liberdade de fato.
A experiência indica que devemos nos educar para sermos livres e
que o prazer em si não é o único
paradigma para nossas escolhas. Que o sentido da vida em sua realização
mais plena, não está em alguns momentos de excitação, mas no desenvolvimento
das potencialidades humanas: afetiva, social e espiritual.
Dentro desta visão holística devemos trabalhar as percepções, não para negar o prazer, mas para descartar
as sensações que nos aprisionam ao ego. Para distinguirmos com clareza os
limites da nossa própria liberdade. É necessário discernimento para separarmos
o moralismo dogmático do princípio moral salutar e universal.
1Lewis,
C.S. Cartas do Diabo ao seu Aprendiz.
trad. Mateus Sampaio Soares de Azevedo. Petrópolis: Vozes, 1996. p. 96
Aguinaldo C. da Silva
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