Muitos
cristãos enfrentam dúvidas sinceras convivendo com a cultura que os
cerca. Posso isso? Posso aquilo? É pecado aquilo outro? Dependendo da
cultura, as perguntas variam, mas no fundo todas elas são resultado do
fato que nem sempre a linha que divide o certo do errado é muito clara.
Paulo enfrentou um caso destes na igreja de Corinto. Havia festivais pagãos
oferecidos aos deuses nos templos da cidade, onde se sacrificavam
animais e se comia a carne deles. Fazia parte da cultura pagã daqueles
dias. Os novos convertidos de Corinto, grande parte deles ex-idólatras
(1Cor 6:9-11), estavam cheios de dúvida se podiam ao menos comer carne,
pois sempre corriam o risco de, sem saber, estarem comendo a carne de
algum animal que havia sido oferecido aos ídolos e aos demônios.
Eles
haviam discutido o assunto e se dividiram em dois grupos: os “fortes,”
que achavam que podiam comer, e os “fracos,” que achavam que não e
preferiam ficar com os legumes (leia 1Co 8—10 para ver o contexto). E
mandaram uma carta a Paulo sobre isto (1Cor 8:1). Eram os crentes livres
para comer carne mesmo correndo este risco? A resposta de Paulo foi
tríplice:
1) O crente não deveria ir ao templo pagão para estas
festas e ali comer carne, pois isto configuraria culto aos ídolos e
portanto, idolatria. É referindo-se a participar do culto pagão que ele
diz “não podeis beber o cálice do Senhor e o cálice dos demônios” (1Cor
10:19-23).
2) O crente poderia aceitar o convite de um amigo
pagão e comer carne na casa dele, mesmo com o risco de que esta carne
tivesse sido oferecida aos ídolos. E não deveria levantar o assunto. Se
não houvesse ninguém que levantasse a questão e ninguém que fosse se
sentir ofendido, o crente poderia comer a carne oferecida por seu amigo
descrente. Se, todavia, houvesse alguém presente ali que se
escandalizasse, o crente não deveria comer. A proibição de comer não era
porque era pecado, mas porque iria ofender o irmão de consciência débil
e fraca que porventura estivesse ali também, como convidado (1Cor
10:27-31).
3) E por fim, Paulo diz que o crente pode comer de
tudo que se vende no mercado sem perguntar nada. O argumento dele é que a
terra e a sua plenitude – isto é, tudo o que Ele criou – é de Deus e
intrinsecamente bom, se usados corretamente. (1Cor 10:25-26).
Mais
tarde, ele escreve a Timóteo criticando os que “exigem abstinência de
alimentos que Deus criou para serem recebidos, com ações de graças,
pelos fiéis e por quantos conhecem plenamente a verdade; pois tudo que
Deus criou é bom, e, recebido com ações de graças, nada é recusável,
porque, pela palavra de Deus e pela oração, é santificado” (1Tim 4.3-4).
Parece
claro que o raciocínio de Paulo é que a carne só se torna anátema e
proibida para o crente enquanto estiver no ambiente pagão de consagração
aos ídolos. Uma vez que a carne saiu de lá e foi para o açougue e de lá
para a mesa do crente ou do seu vizinho descrente, não representa mais
qualquer ameaça espiritual. De outra forma, Paulo não teria permitido o
seu consumo em casa e na casa de um amigo. A restrição é somente no
ambiente de culto e consagração pagã.
Alguns dos coríntios, para
não arriscar, tinham preferido só comer legumes, com receio de ficarem
contaminados com os demônios a quem a carne teria sido oferecida: “o
débil come legumes” (Rm 14.2). Paulo certamente preferia que os crentes
da cidade seguissem o caminho dos que ele chama de “fortes,” que é
daqueles que já aprenderam que só há um Deus e um Senhor e que tudo é
dele. A Igreja não pode ficar refém da ética dos “débeis” pois
inevitavelmente descamba para o legalismo. Mas, ele admite que “não há
este conhecimento em todos” (1Co 8.7) e determina que, em amor e
consideração a estes irmãos, haja respeito e consideração uns para com
os outros.
Em resumo: à exceção dos churrascos nos templos
pagãos, os crentes podiam comer em casa carne comprada no mercado, e na
casa de amigos descrentes quando convidados. Quem não se sentisse a
vontade para fazer isto, por causa da consciência, que comesse legumes.
Não havia problemas, desde que não condenassem os que se sentiam
tranquilos para comer carne. E estes, não deveriam zombar e desprezar os
outros.
Fonte: tempora-mores.blogspot.com.br
Nota. O elucidativo artigo acima deixou claro que Paulo estava falando sobre carnes sacrificadas aos ídolos e não de tipos de carnes em si, se era de animal imundo ou limpo - ver Levítico 11. Assim em declarações como: "tudo que
Deus criou é bom, e, recebido com ações de graças, nada é recusável,
porque, pela palavra de Deus e pela oração, é santificado” (1Tim 4.3-4), se referia a carnes de animais sacrificados em templos pagãos. As orientações de Levítico 11 se referem a uma regra de saúde que é válida ainda em nossos dias, pois Deus ainda tem interesse em nossa boa saúde e conservação.
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