Jesus diz que o discípulo é um ser livre.
Cristo não esmaga a cana quebrada e nem apaga a torcida que fumega. Ele não
violenta o coração. Não faz apelos emocionalmente irresistíveis. Não coage a
alma humana. Não faz lavagem cerebral. Seu convite ao discipulado começa com um
"se alguém quer".
O
homem deve analisar se deseja segui-lo. Ninguém é forçado a aceitar. O
candidato ao discipulado tem que se sentir em liberdade, pois Jesus mostra que
há opções. Todavia, a opção para fora do discipulado é morte, escravidão,
gemido e náusea. No discipulado há uma
lei básica: a pessoa é livre para tudo, só não é livre para deixar de escolher.
O candidato a ele é escravo da sua liberdade. Mas é tão livre que pode até
escolher ser escravo.
Deus
criou o homem não apenas com o livre arbítrio mas também com o poder de
arbitrar. Por isso Jesus afirma que o discípulo tem que ser alguém que
quer. Se alguém quer, é como inicia o
convite.
O
seguidor de Jesus deve saber o que quer, porque o discipulado sempre exige uma
de-cisão. Algumas decisões não são de-cisões. No discipulado, no entanto, não
raramente as tomadas de posição implicam rupturas, fraturas emocionais,
psicológicas, familiares, sociais e até econômicas.
O
discípulo tem que saber o que quer, porque dele é exigido que abra mão de
valores, a fim de se apoderar do Reino de Deus:
"O reino dos céus é semelhante a um
tesouro oculto no
campo, o qual certo homem, tendo-o
achado, escondeu. E,
transbordante de alegria, vai, vende tudo o
que tem, e
compra aquele campo."
Não
se trata de salvação pelas obras, mas de entender e aceitar os custos da
descoberta, da REVELAÇÃO. O tesouro valia mais do que o campo. Logo, quem
comprou o campo, ganhou o tesouro de graça.
Assim
é no Reino de Deus: a salvação (tesouro) é de graça, mas o discipulado (campo)
tem um preço. Há valores a serem trocados; há um custo a ser pago.
Isto
porque o Reino dos Céus é a única realidade duradoura, e o seu valor é
incalculavelmente precioso.
Por
isso a pessoa realmente desejosa de receber os resultados positivos da vida no
Reino dos Céus, uma vez confrontada com ele, prontamente, e cheia de alegria,
fará o sacrifício que for necessário, seja a perda de amizades, bens, posição,
ou inclusive da própria vida.
Todavia deve-se saber que quando a grande alegria, que supera toda
medida, toma conta da alma, ela arrebata, atinge o mais íntimo, supera a
compreensão. Tudo fica pálido e sem brilho diante do brilho do Reino dos Céus.
Nenhum preço parece alto demais diante desse tesouro. A entrega precipitada e irrefletida do que há
de mais precioso torna-se a evidência mais clara disso. Diante do Reino
entrega-se tudo porque se fica arrebatado diante da grandeza do achado. A
boa-nova da sua irrupção arrebata, gera a grande alegria, orienta toda a vida
para a consumação da comunhão com Deus, opera a entrega apaixonada. Faz com que
a perda seja ganho. Transforma o sacrifício em festa. Faz da troca de valores o melhor negócio.
Deve
ainda o discípulo ter a coragem de aceitar que sua conversão pode dividir a
família. É possível que haja uma de-cisão na sua casa. Pode surgir uma guerra
emocional e religiosa do pai incrédulo contra o filho convertido, ou do filho rebelde
contra o pai arrependido; da mãe beata contra a filha que mudou de religião, ou
da filha renitente contra a mãe recém-convertida; da sogra falante contra a
nora humilde, ou da nora avançada contra a sogra considerada quadrada por causa
de Jesus.
O discípulo deve saber que seus inimigos
poderão ser os da sua própria casa. Deve, no entanto, estar informado de que no
Reino de Deus existe o milagre da multiplicação dos relacionamentos
interpessoais e dos privilégios sociais: "Em verdade vos digo que ninguém
há que tenha deixado casa, ou irmãos, ou mãe, ou pai, ou campos, por amor de
mim e por amor do evangelho, que não receba já no presente o cêntuplo de casas,
irmãos, irmãs, mães, filhos e campos, com perseguições; e no mundo por vir a
vida eterna - ver também que a Cruz gera nova família.
É
indispensável ainda que o discípulo saiba o que quer, porque a vida de um seguidor de Jesus é comparável à de um
sentenciado à morte: ele pode morrer de morte violenta ou não, mas, em qualquer
dos casos, existe morrendo para poder morrer vivendo. Quem quiser preservar a
sua vida, perdê-la-á; e quem perder, de fato a salvará.