"Qualquer que procurar salvar a sua
vida perdê-la-á e qualquer que a perder salvá-la-á. (Luc. 17:33). No Reino de
Deus convive-se com o paradoxo de que achar a vida é perdê-la, e perder a vida
por Jesus é achá-la. Esta opção de vida leva o seguidor de Jesus a uma
disposição de limitar-se tanto quanto necessário: "Se tua mão te faz
tropeçar, corta-a; pois é melhor entrares maneta na vida do que, tendo as duas
mãos, ires para o inferno, para o fogo inextinguível (onde não lhes morre o verme,
nem o fogo se apaga). E se teu pé te faz tropeçar, corta-o; é melhor entrares
na vida aleijado do que, tendo o dois pés, seres lançado no inferno (onde não
lhes morre o verme nem o fogo se apaga). E se um dos teus olhos te faz
tropeçar, arranca-o; é melhor entrar no Reino de Deus com um só dos teus olhos
do que, tendo os dois, seres lançado no inferno".
Este modo de vida exige espírito
voluntário. Entretanto, no texto onde Jesus ensina maneiras de se imporem
limites, raia a luz da mais intensa expansão e liberdade. A mão, pé ou olho
amputado são do discípulo mas não são o discípulo. O cristão que se limita por
causa do Reino de Deus continua inteiro, completo, pleno. Outra surpresa diante
da qual Jesus nos coloca é que essa aparente castração é o caminho para a
verdadeira vida (a palavra vida aparece duas vezes no texto como resultado
desses atos). Resta-nos a constatação de que aqueles que rejeitam essa
limitação vão plenos para o inferno. E a última estranheza da sabedoria de
Jesus é que aquele que se apodera de menos (mão), anda por caminhos menores
(pés), e vê menos (olho), é quem vai se apoderar de mais; é quem entrará no céu
e verá a glória de Deus no Reino eterno.
As implicações de cada uma dessas lições
afetam os negócios, os sentimentos, os relacionamentos e as ambições do
cristão. Não se trata de autoflagelação, mas de autolimitação não patológica
produzida pela certeza de que tudo aquilo que faz tropeçar tem que ser evitado.
O discípulo, para aprender de Jesus, tem que ter a palavra do Mestre como o
ponto de partida, o ponto de apoio, o ponto de referência, o ponto de vista e o
ponto de chegada. "Todo aquele, pois, que ouve estas minhas palavras e as
pratica, será comparado a um homem prudente que edificou a sua casa sobre a rocha;
e caiu a chuva, transbordaram os rios, sopraram os ventos e deram com ímpeto
contra aquela casa, que não caiu, porque fora edificada sobre a rocha". O
discípulo tem que estruturar a sua vida única e exclusivamente sobre a Palavra
de Deus. Não há outra base. Seus pontos de vista são os de Deus. Sua estrutura
é a verdade do reino de Jesus. As opiniões próprias são sepultadas quando
alguém se dispõe a ser um aprendiz do Mestre. Importa ter a mente de Cristo e
não aceitar viver de outra maneira que não seja sobre as bases do ensino do
Senhor Qualquer outra obsessão termina quando começa o discipulado. Nele só há
lugar para a sadia obsessão do Reino de Deus. Nem afazeres, nem compromissos,
nem qualquer relacionamento humano podem tomar o lugar e a importância do convite
de Jesus.