quarta-feira, 1 de junho de 2016

O juízo pré-advento

     Este é um assunto que tem provocado muita incompreensão por parte de muitos estudiosos da Bíblia. Meu objetivo aqui não é elucidar todos os aspectos deste ícone da doutrina adventista, mas expor a viabilidade teológica do tema, a partir de uma leitura refletida sobre alguns textos bíblicos. Uma análise meticulosa do livro de Apocalipse lança luz sobre o assunto, tornando o tema propício de ser assimilado. O primeiro deles é Apocalipse 3 verso 5. Lá esta escrito:
O que vencer será vestido de vestes brancas, e de maneira nenhuma riscarei o seu nome do livro da vida; e confessarei o seu nome diante de meu Pai e diante de seus anjos.”
Neste texto o crente é apontado como um combatente, se há vencedores isto indica que há luta. O apóstolo Paulo também se refere à carreira cristã como o “combate da fé” (II Tim. 4:7). Só é possível saber quem é vitorioso depois de encerrada a luta, não podemos determinar isto durante a prova.  O autor do Apocalipse está dizendo que os crentes ou todos aqueles que ingressaram para o Reino de Deus, serão em algum momento após a jornada da fé, olhados pelo seu Senhor, e somente os vitoriosos serão mantidos no livro da vida, ou seja, não terão seus nomes riscados. Um momento de selamento, onde a posição de salvo se torna definitiva e não mais haverá  a possibilidade de reversão.  Alguém poderá dizer que este momento seja logo após a morte. Mas o mesmo livro de Apocalipse diz que haverá um momento definido para este julgamento. “E iraram-se as nações, e veio a tua ira, e o tempo dos mortos, para que sejam julgados ...” (Apoc11:18).
Com relação ao julgamento diante do trono branco (Apoc20:11-15), é dito: “E aquele que não foi achado escrito no livro da vida foi lançado no lago de fogo.” (Apoc. 20:15). Aí a questão não gira mais em torno de se manter ou riscar o nome do livro da vida, mas em apenas verificar se o nome está escrito no livro da vida. Isto nos leva a inferir que o momento de se verificar quem irá permanecer com o nome no livro da vida não será após o milênio, nem durante o mesmo, pois neste tempo a igreja já estará no Céu participando de um outro julgamento, o de Satanás e dos ímpios (I Cor. 6:2-3). Assim sendo, o momento em que os justos serão apresentados diante da platéia celestial será antes do segundo advento de Cristo à Terra.
Na Parábola das Bodas (Mateus 22:1-14), Jesus ratifica esta idéia, os convidados são observados nas cortes celestiais e os que não têm a veste nupcial serão lançados fora. A Parábola das 10 virgens também enfatiza esta verdade. As virgens loucas também aceitaram o convite, permaneceram lado a lado com as virgens prudentes, até recebem o azeite, mas não o guardaram devidamente e por isto não foram recebidas pelo noivo.
A grande maioria dos evangélicos consideram esta doutrina incompatível com a justificação pela fé. Talvez o problema esteja na compreensão do fenômeno da salvação.  Somos salvos quando nos encontramos com Cristo e recebemos Sua graça, mas o permanecer na graça depende de como nos relacionamos com Cristo. Neste caminho há sinergismo, interação; não somos salvos compulsoriamente. O ouvir e atender a voz do Espírito Santo depende de nós. A Bíblia diz que aquele que perseverar até o fim este será salvo (Mateus 10:22). A compreensão da salvação sem este último elemento cria um conceito deturpado da graça. Um conceito de que eu não preciso vigiar, exercer fé, perseverar nas provas.
Muito ao contrário de ser um julgamento para se encontrar méritos pessoais para a salvação, este é um julgamento para ver quem permaneceu firme no relacionamento com Cristo. Apesar de o rompimento deste relacionamento já trazer consequências imediatas; perante as hostes celestiais haverá um dia em que as coisas serão colocadas às claras (Romanos 2:16; Hebr. 4:13; 10:30; Apoc. 3:5; Exodo 32:33). 
           

Aguinaldo C. da Silva


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