terça-feira, 24 de setembro de 2013

Como Abraão alcançou Justificação?

Abraão creu em Deus e isso lhe foi imputado para justiça, diz-nos a Bíblia (Gn 15:6). Em que Abraão acreditava para que Deus o declarasse justo? Será que ele acreditava que Deus lhe havia proporcionado a expiação dos pecados? Nada disso. A narrativa deixa bem claro que Abraão acreditava que Deus lhe daria um filho homem, um herdeiro, e por intermédio desse filho uma multidão de descendentes que possuiriam a terra que lhe fora prometida. Ele tinha fé em Deus, é claro, mas em relação a coisas da sua existência terrena.
Ele acreditava que Deus se relacionaria com ele no presente - como fizeram aqueles que mais tarde se reuniram em torno de Jesus. Ele chegou até a ter a ousadia de perguntar a Deus como ele poderia saber que a promessa de um herdeiro seria cumprida. Em resposta, Deus o mandou preparar animais para o sacrifício. Abraão obedeceu e depois aguardou a ação de Deus (Gn 15:8-11). Ele aguardou que Deus materializasse fogo "do nada". Deus agiu a partir do espaço circundante, da atmosfera - ou seja, do "primeiro céu" da Bíblia. Essa foi a resposta à pergunta de Abraão. Bem mais tarde "Visitou o Senhor a Sara" e Isaque foi concebido (Gn 21:1).
Diante de tamanha fé, Deus declarou Abraão justo. Será que isso significa que ele declarou que Abraão iria para o céu quando morresse? Não exatamente isso, mas certamente que os pecados e as faltas do patriarca não iriam separá-lo de Deus no presente e no seu contínuo relacionamento durante a vida.
Mas será que ele iria para o céu quando morresse? Claro que sim! Que mais faria Deus com uma pessoa como essa? Eles eram amigos, fato bem destacado na Bíblia (2Cr 20:7; Is 41:8; Tg 2:23), assim como devemos ser amigos de Jesus mergulhando na sua obra (Jo 15:15). Nenhum amigo de Deus irá para o inferno. Jesus aliás nos assegurou de que "quem der a beber ainda que seja um copo de água fria a um destes pequeninos, por ser este meu discípulo, em verdade vos digo que de modo algum perderá o seu galardão" (Mt 10:42).
Com certeza o perdão e a reconciliação são essenciais a qualquer relacionamento em que tenha havido ofensa, e também ao relacionamento entre nós e Deus. Não podemos entrar sem perdão numa nova vida que nos vem do alto. Com certeza é Cristo que possibilita essa transição, e também o perdão, por meio de sua vida e morte. Precisamos nos reconciliar com Deus, e ele conosco, se pretendemos conviver. Mas essa reconciliação envolve muito mais do que o perdão dos nossos pecados ou a limpeza da nossa folha corrida. E a fé e salvação de que fala Jesus obviamente é uma realidade muito mais positiva do que a mera reconciliação. As histórias de Abraão e outros personagens bíblicos ilustram belamente isso.
A questão, no tocante ao evangelho que encontramos nos Evangelhos, é se estamos vivos ou mortos para Deus. Será que mantemos com ele um relacionamento interativo que constitui uma nova vida, vida "do alto"? Como diz o apóstolo João na sua primeira carta, "Deus nos deu a vida eterna; e esta vida está no seu Filho. Aquele que tem o Filho tem a vida" (1Jo 5:11-12).

O que precisa ser enfatizado em tudo isso é a diferença que há entre, de um lado, confiar em Cristo, a verdadeira pessoa de Jesus, com tudo aquilo que isso naturalmente envolve, e de outro, confiar em alguma providência para a remissão dos pecados estabelecida por meio dele - confiar somente no seu papel de removedor da culpa. Confiar na verdadeira pessoa de Jesus é ter confiança nele em cada aspecto da nossa vida; é acreditar que ele está certo a respeito de todas as coisas, que ele é adequado a todas as coisas.

Fonte: A Conspiração Divina, pág. 37 (Dallas Willard)

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